Página  >  Edições  >  N.º 141  >  Crescer com a violência

Crescer com a violência

As vítimas mudas da violência no Iraque

"Eu sonho com uma grande explosão e acordo com medo", conta Nour, uma menina iraquiana de oito anos, que, tal como os seus companheiros de escola, tem andado aterrorizada com as explosões, os raptos, as mortes e treme a cada passagem de um helicópetro.
Nour é o exemplo de como as crianças daquele país estão a pagar um pesado tributo à violência. No final de Setembro, uma viatura armadilhada massacrou 42 pessoas, das quais 37 eram crianças, em Al-Amel, um bairro na zona sudoeste de Bagdad. Desde então, pelo menos outras vinte crianças foram mortas em atentados um pouco por todo o país.
À entrada da escola primária daquele bairro, dois membros das forças de segurança nacional encarregues da protecção de locais inspeccionam todas as pessoas ou viaturas suspeitas. Para os habitantes locais a violência já faz parte do quotidiano. "Estamos próximos da estrada para o aeroporto onde têm ocorrido inúmeros atentados com viaturas armadilhadas. A maioria das crianças tem medo de ir à escola", explica a vice-directora Azhar Akmouche, agradecendo a Deus que nenhuma criança da escola tenha perecido nas explosões.
A este perigo junta-se o receio dos rapto de crianças. "Um dos nossos alunos de 12 anos foi raptado durante três dias até a família ter pago um resgate de vinte mil euros", explica Akmouche. Por seu lado, Anouar Ali, uma professora, diz que "diversos encarregados de educação preferiram retirar as crianças da escola com medo dos raptos".
Neste contexto, Azhar Akmouche alarma-se perante a possibilidade de as escolas virem a servir como locais de votação para as eleições do final deste mês, já que na sua opinião, podem vir a constituir alvos preferenciais da guerrilha. Tal como outras escolas, esta já foi alvo de ameaças. No muro exterior da escola uma inscrição a vermelho avisa: "Em nome de Deus, abandonem este sítio depressa".
No Hospital Ibn Roshd, em Bagdad, Mohammad Al-Bagdadi, chefe do serviço de neuropsiquiatria, acolhe diariamente cinco crianças apresentando problemas de comportamento ligados à violência. "Há um sério aumento do número de crianças vítimas de perturbação", refere o médico, lamentando a ausência de psicólogos nas escolas.
Para Hachem Zaini, director do hospital, é impossível avaliar a real amplitude deste fenómeno, já que à excepção do seu serviço não existe outro estabelecimento deste tipo no país susceptível de fornecer estatísticas fiáveis. Depois, sublinha, os próprios pais não se apercebem das perturbações psicológicas das crianças, excepto quando elas se revelam muito severas, estando mais preocupados com outros problemas da vida quotidiana, o que, nas actuais circunstâncias, se revela "compreensível", diz Zaini.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 141
Ano 14, Janeiro 2005

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo