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À procura de ?elucidação?

DIDÁCTICA-2004

Andavam por entre expositores à procura de ?elucidação? sobre que destino dar à vida escolar. Fábio, Maria, Juliana, Nelson, Tiago, estão a acabar o 9º ano na Escola Básica 2+3 Júlio Brandão, em Famalicão. A PÁGINA percorreu com eles a Didáctica-2004, uma feira de produtos e serviços para a educação e o ensino, realizada em Maio na Exponor.

O ambiente faz lembrar o de um shopping. Os visitantes, novos e menos novos, passeiam carregados de sacos coloridos. Dentro deles adivinham-se desdobráveis, panfletos, folhetos, autocolantes, lápis e canetas. Ofertas conseguidas nos expositores dos participantes: escolas profissionais, universidades (mais privadas do que públicas), organismos oficiais, associações juvenis, profissionais, empresas de material didáctico que oferecem toda a literatura informativa das suas actividades. As ?montras? da Didáctica vêem-se ao som de música variada.
Enquanto o Michael Jackson canta a Billy Jean, um grupo de alunos da Escola Básica 2+3 Júlio Brandão, em Famalicão aparca em massa junto ao Instituto de Emprego e Formação Profissional. Junto-me a eles. Pergunto se estão preocupados com o desemprego. Por enquanto não, respondem alguns. Querem apenas ver o que o IEFP tem para lhes oferecer. Há calendários de mesa. Pouca coisa, tendo em conta que metade é para o lixo. Fábio é um dos elementos do grupo. O seu emprego, diz ?está garantido?. ?O meu pai tem um escritório de contabilidade?, justifica-se, dizendo estar à procura de informação sobre cursos de gestão, economia e contabilidade. Mas já lá vamos.
No meio do entusiasmo do grupo, Nelson segue  um pouco à margem. Não há lápis ou caneta que o façam chegar-se a uma banca. As mãos livres de sacos. Faz 17 anos este ano e tenciona deixar a escola. ?Não gosto de estudar?, diz vagamente. É essa a razão por que a visita à Didáctica para ele está a ser ?uma seca?.
A romaria prossegue. Passamos pela Faculdade de Economia de Coimbra. Fábio faz a ronda à banca e pega em tudo o que é papelada. Por frequentarem ainda o 9º ano não significa que se devam abstrair de pensar no curso universitário a seguir. Maria também colecciona panfletos. Está interessada em algo ?ligado ao ambiente, ou à biologia, ou ao desporto?. Fábio, atento à conversa diz ter nos seus sacos ?muitas cenas? de desporto. ?Se quiseres depois podes tirar fotocópias?, diz para Maria. Não será necessário. Há folhetos de sobra.
?Uma pessoa nem sabe para que lado se virar!? A observação de Fábio resume a diáspora do grupo. ?Vamos à Universidade Lusíada!?, sugere aos colegas. Enchem-se os sacos com mais folhetos sobre cursos de Direito e de Economia. Juliana acompanha Fábio. Quer obter informações sobre o curso de arquitectura. Devido à timidez da jovem é Fábio quem faz as perguntas: ?Que específicas são precisas?? História de arte, Desenho, Geometria ou Português, enumera um dos representantes no stand, ?mas para mais informações contactem esse número de telefone que vem nos panfletos?, acrescenta. Juliana desdobra a literatura que Fábio recolheu para si. Ao perceber que os jovens estão no 9º ano o funcionário volta ao seu encontro para sugerir a frequência no Colégio Camilo Castelo Branco, do 10º ao 12º ano. ?Um bom lugar de estudo para quem quer entrar na Universidade Lusíada?, assegura. A proposta convence Fábio. ?Estás a ver? Fazes lá o 12º ano, aumentas as notas e entras logo??
Maria equaciona agora outras opções de carreira. Está no expositor do Instituto Superior Politécnico de Gaya. Os panfletos anunciam: ?Futuro com futuro?, enquanto um aluno do 4º ano explica à jovem as vantagens daquela licenciatura. O turismo, segundo o universitário, é ?o motor da economia?, a área de ?maior aceitação? cuja ?empregabilidade só tem comparação com a das engenharias?. Resta saber o que pesará na escolha profissional de Maria, a empregabilidade, o dinheiro, a vocação? ?Conta sempre se vou ter emprego e dinheiro, mas acima de tudo vou escolher a área de que mais gostar, o resto vê-se depois.?
Momentos mais tarde, no expositor do Instituto Piaget, os planos académicos de Maria ganham outros contornos: ?Se calhar sigo a área de desporto, até ao 12º ano, e depois tiro Fisioterapia. Também estava interessada em Biologia, mas teria de ir trabalhar ou para Lisboa ou para fora do país?? E isso Maria não quer. Pelo menos para já. Das poucas certezas que tem deixa cair uma: ?Nunca estive tão indecisa como agora ao ver tantas opções??
Regressado do grupo após 10 minutos de ausência chega Tiago. Vem com um frasco de perfume, uma cortesia do expositor da Escola Profissional Novos Rumos. ?O que fizeste para ganhar isso??, perguntam-lhe os colegas. ?Nada, responde Tiago, só fiz umas perguntas sobre o curso de hotelaria?. É esta a área que o jovem acredita estar a empregar mais gente actualmente e portanto a da sua eleição.
Mais uma volta. E outra paragem. É a vez do Instituto de Formação Turística (Inftur). O expositor é uma cozinha onde alguns alunos estão às voltas com os tachos. Fazem brigadeiros. Com um apetite de quem já galgou muito stand, o grupo ataca algumas das iguarias expostas. Maria dá uma fugida ao expositor do Sistema Universitário da Galiza e pega num CD- ROM da Universidade da Corunha. Está a pensar que se quiser fazer um curso superior na área da saúde pode bem precisar de ?emigrar?.
A poucos metros de distância uma multidão de rapazes e raparigas rodeia o expositor da Escola Profissional do Comércio Externo. Tudo por causa de um aparelho de karaoke e uma câmara de filmar ligada a um televisor. A parafernália atrai o grupo. Até que alguém lembra que já passa da hora combinada com a ?stôra? para a reunião na porta de saída. Teresa Ribeiro, professora de matemática, é a única a ser pontual. Aos poucos alunos que vão aparecendo é pedido que chamem os outros.
Enquanto espera, Teresa Ribeiro faz o balanço da visita. ?Tenho alunos que procuravam informações sobre cursos profissionais de desporto e informática e ficaram sem respostas.? Também a professora vai carregada de sacos. Informação para partilhar com a escola. Só as três turmas do 9º ano puderam visitar a Didáctica. ?Se a escola tivesse sabido com mais antecedência quem eram os participantes teria pedido um transporte à autarquia para poder trazer mais alunos?, critica. Assim, com as deslocações de Famalicão a Leça a serem feitas de comboio e transportes públicos, a escola teve de restringir as deslocações. Talvez para o ano haja mais.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 135
Ano 13, Junho 2004

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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