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Por que só o professor?

O professor no processo ensino-aprendizagem  se relaciona principalmente ao desempenho escolar e,  sem ele,  não se faz escola. Os demais fatores que nos permitem fazer uma leitura do universo escolar podem nos levar a crer que as relações de poder existentes na escola tornam o professor, ao mesmo tempo, causa e conseqüência da realidade escolar.
Afinal, qual a função do professor na escola? Professor eficiente será aquele especialista em transferir conhecimentos? Será a mera transferência de conhecimento responsável pelo crescimento do aluno? Pensar desta maneira nos leva a relegar ao desprezo qualidades indispensáveis, requeridas na produção do conhecimento tais como, a ação de procura do conhecimento de forma a obter uma aquisição duradoura , a reflexão crítica sobre o que fora apreendido, a curiosidade de buscar em fontes diferentes o conhecimento, o questionamento, a inquietação, a incerteza e muitas outras qualidades inerentes ao educando que se aventura na procura de novos saberes.
Infelizmente, muitas de nossas escolas ainda se baseiam em modelos positivistas de veiculação do conhecimento. O professor se apóia em modelos de comparação aos métodos utilizados por seus professores e (re) transmite as vivências de suas experiências escolares. Hoje as propostas de construção de uma escola com novos  valores, nos levam ao encontro do pensamento de Trigueiro em ?Filosofia da educação brasileira?(1983) que nos dá a idéia de que ?a educação é um projeto simultaneamente político e filosófico, cuja compreensão não cabe exclusivamente no âmbito da racionalidade científica? 
Os homens não são recipientes vazios que completamos com o saber sistematizado ministrado nas escolas. O conhecimento é adquirido com a problematização de suas dúvidas que se consolidam com as relações que podem ser feitas com o mundo que o cerca. Aprender, segundo este enfoque, se constitui em atitude de envolvimento na aquisição, interpretação e produção dos saberes. O estudante não tem mais a atitude contemplativa ou absorvente perante aos dados que lhe são apresentados.
As novas necessidades de formação de professores deverão se situar na promessa de inserir este professor em uma concepção de que o processo ensino-aprendizagem deverá compreender a aquisição e a transferência de conhecimento em uma perspectiva histórico social. Desta maneira possibilitaria o surgimento de uma consciência crítica que relacionasse o sujeito ao objeto de estudo integrando-o a uma cadeia de procedimentos que levassem a um estudo que tivesse início na coleta de dados e que culminasse na reflexão crítica. A pesquisa, dentro deste enfoque, passa a ter importância capital pois envolve aluno e professor na tarefa de investigar e refletir sobre o objeto estudado, senão o próprio mundo. Para tanto, a pesquisa precisará ser desmistificada para se tornar uma prática diária, acessível. A construção do conhecimento deverá se dar de maneira menos rígida, despojada de critérios e elementos burocratizantes que a visão positivista nos legou, deixando de se apresentar como tarefa de iluminados, escolhidos, detentores do conhecimento como senhores da ciência. Apresentar, ensino e pesquisa como elementos de uma prática integrada, que envolva professores e estudantes na aquisição de conhecimento integrado, partilhado, colocando os envolvidos neste processo na condição de apreensão destes dados e não reprodutores dos saberes vem se tornando, felizmente, o objetivo a alcançar de muitas instituições.


  
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Edição:

N.º 130
Ano 13, Janeiro 2004

Autoria:

Ricardo Marinho dos Santos
Centro Universitário Moura Lacerda, Brasil
Ricardo Marinho dos Santos
Centro Universitário Moura Lacerda, Brasil

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