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Empurrar o curso com a barriga

Falta-lhes uma, duas ou muitas disciplinas para acabar o curso. Entretanto ?o canudo? vai ficando em segundo plano. Primeiro o emprego, depois logo se vê, dizem. Há alunos que apesar da frequência universitária, decidem dar prioridade à entrada no mercado de trabalho. Para uns trata-se uma questão de sobrevivência, para outros um ?aproveitar a oportunidade?. Uns trabalham na área para a qual se estão a formar. Outros nem por isso. São estórias de alunos que entram nas estatísticas do ?insucesso universitário?. Mas que afinal apenas se limitaram a optar por uma via diferente.

?Não houve nenhuma razão especial? para justificar a decisão de arranjar um emprego. Mas ?a paixão pela música? impediu-o de dizer não à oportunidade de começar a trabalhar numa loja discográfica. Há três anos e meio Bruno Malheiro, 24 anos, trocou a assistência a algumas das aulas do curso de História que ainda frequenta na Universidade do Minho, em Braga, por um emprego em part-time. ?No início a ideia era conciliar os estudos com o trabalho?, reflecte Bruno Malheiro. Mas pouco a pouco quase sem se dar conta foi deixando ?o curso para trás?. Quando faz as contas às matrículas que já efectuou surpreende-se: sete.
Também para Diana Oliveira, 25 anos, tudo aconteceu naturalmente: ?Não tive intenção de sobrepor o trabalho aos estudos!? A frequentar o curso de Língua e Literatura Moderna, variante Inglês/Alemão, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, começou por trabalhar apenas aos fins-de-semana numa loja comercial na zona da Baixa portuense. ?Queria ganhar uns trocos?, graceja. ?Depois ? continua ? comprei o carro e tive necessidade de responder a esse compromisso.? Juntou mais alguns part-times durante a semana. E até ao 4º ano, garante Diana Oliveira, conseguiu ?levar o curso mais ou menos direitinho?. Entretanto já lá vão 8 matrículas.
Dário Silva, 27 anos, não faz contas às matrículas. Suspendeu a sua frequência no curso de Comunicação Social na Universidade do Minho. ?Não penso retomar a matrícula antes de 2006/07?, admite depois de uns momentos a fazer contas à vida. Por terminar tem cerca de metade do curso. Deixou de ter tempo para ir às aulas em 2000, altura em que começou a trabalhar como repórter fotográfico em alguns jornais diários. De lá para cá não parou. Entretanto, acabar o curso deixou de ser uma prioridade. ?Não vejo que a licenciatura possa alterar tanto a minha vida profissional que me faça precisar dela!?, comenta.
Para Bruno Malheiro a conclusão do curso também não é uma prioridade. Sente-se ?realizado? com o emprego que tem. Mas não esconde que gostaria de poder fazer investigação na área da História Contemporânea. E uma vez aprovadas as duas disciplinas que ainda lhe sobram para acabar o curso, tem vontade de fazer o mestrado. ?Vou fazê-lo por gosto e não há espera de poder ser investigador?, comenta. Até porque pela experiência de colegas de curso mais velhos, Bruno Malheiro sabe que o destino mais certo de um recém- licenciado em História é o desemprego.
Por acreditar que a licenciatura lhe trará ?poucas perspectivas de emprego? Diana Oliveira confessa que ?neste momento é mais importante a estabilidade financeira do que a conclusão do curso?. Por isso, trabalha agora a tempo inteiro. Ainda assim insiste que ser empregada de balcão não é o emprego que tenciona ter a ?vida inteira?. De facto, Diana espera fazer este ano lectivo as duas disciplinas que lhe faltam: metodologia do ensino de inglês e de alemão. E para trocar as voltas ao desemprego decidiu deixar a variante de ensino e ingressar pela científica. ?Talvez possa usar as competências linguísticas para trabalhar na empresa?, replica.


  
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Edição:

N.º 130
Ano 13, Janeiro 2004

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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