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A natureza: uma componente indissociável da trama urbana

O TEMA DA NATUREZA NA CIDADE TEM SUSCITADO UMA SIGNIFICATIVA ABORDAGEM NA LITERATURA CIENTÍFICA NO DECORRER DOS ÚLTIMOS ANOS, NOMEADAMENTE NO QUE DIZ RESPEITO À FORMA COMO É TRATADA A VEGETAÇÃO NOS ESPAÇOS LIVRES, NOS PARQUES OU NOS JARDINS PÚBLICOS.

Tendo como referência os valores do ordenamento e da ecologia urbana, e como perspectiva o espaço total da cidade, os espaços verdes nela existentes têm-se frequentemente comparado a "ilhas urbanas" como se de territórios [LS1] insulares oceânicos, isolados dos continentes, se tratassem.
Por outro lado, tendo em consideração a conservação e a restauração dos espaços livres, o conceito de ?corredor? ou de ?ligação verde? aparece como uma alternativa interessante, não somente para a reabilitação de novos espaços recreativos, mas também como fazendo parte dum conjunto mais vasto, que pode contribuir para a formação da trama verde da aglomeração.
Uma rede de espaços verdes e azuis (ainda raros nas nossas cidades), bem implementada, contribui, por seu lado, para beneficiar o quadro de vida urbano. É sabido que a árvore é, desde há muito, reconhecida como um elemento essencial para a vida em meio urbanizado, e tem sido, por isso, objecto de uma protecção consequente. Mas se assim é, ou deveria ser, nem sempre temos assistido, no contexto das cidades portuguesas, nos últimos tempos à evidência desta preocupação, e muito menos ela tem sido colocada como valor central do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida urbana.
Independentemente de aumentar, em teoria, cada vez mais a importância que é dada à necessidade de implementação de espaços verdes destinados ao lazer, ainda nos deparamos com algum défice de conhecimento, consciência e educação ecológica, por parte de muitos responsáveis [LS2] municipais, bem como, por parte das populações em geral. Muito falta ainda para que as nossas cidades sejam verdadeiramente contempladas com as tão faladas redes de espaços verdes e azuis, presentes, desde há algumas décadas, em outras urbes europeias. Urbes estas que já oferecem uma superfície pública, por habitante, bastante satisfatória no que se refere a espaços verdes e azuis destinados aos lazeres dos cidadãos.
Ainda no que às cidades portuguesas diz respeito, comenta-se que os terrenos livres são escassos e caros. Todavia, muitos dos velhos sectores industrializados em desactivação, ou muitas das frinchas abertas e desventradas existentes, um pouco por todo o lado, nem sempre são tidas em consideração como potenciais locais de implementação de novos espaços de recreação e de naturalização da cidade. O desafio passa, por parte das autarquias, pelo exercício do direito de preferência na sua aquisição. Depois de limpos e despoluídos eles poderão servir as necessidades dos munícipes[LS3] , bem como valorizar estética, ecológica e patrimonialmente a cidade.
Há, indiscutivelmente, no que se refere aos novos espaços públicos para a cidade[LS4]  que desenhar outras políticas municipais. Políticas que aproveitando os espaços residuais existentes, os coloquem ao serviço da cidade para que este,s nela representem[LS5] , cada vez mais, um papel estruturante na edificação  da paisagem natural urbana.[LS6]
Contribuir para o reforço dos espaços públicos destinados à recreação dos cidadãos, tornando a cidade mais verde e azul, é uma forma de proporcionar às pessoas outros territórios (públicos e abertos) para o seu tempo livre, e ao mesmo tempo contribuir para a sua naturalização e embelezamento. Tornar os bairros, das grandes e médias cidades, mais verdes e azuis é fazer com que eles voltem a ser lugares de convivência[LS7] , de comunicação e de identidade. Projectos de naturalização das cidades, para o presente e para o futuro, é pois algo que falta e que se precisa.
Parece-nos evidente que nós, os que habitamos as cidades, estamos cada vez mais necessitados de vermos uma ?outra forma de fazer? por parte[LS8]  da gestão autárquica. Torna-se urgente, e necessário, começar a fazer obra, mas segundo os princípios de que uma cidade só é verdadeiramente cidade quando nela forem estabelecidos muitos dos actuais parâmetros que hoje valorizam as suas variáveis qualitativas e que passam, entre outros aspectos, por uma identificação com a produção e a manutenção de espaços verdes. Fazer proliferar os espaços verdes de vizinhança e articulá-los com o dinamismo dos bairros pensamos que é algo que deve ser considerado.
Em suma, para haver mais qualidade de vida nas nossas cidades, um dos caminhos a seguir é o da[LS9] implementação de mais natureza na trama urbana. Ao dar-se no meio urbano, cada vez mais lugar ao verde, está-se a contribuir para o aumento da sua mancha, a respeitar os princípios inegáveis da sustentabilidade e, acima de tudo, a redesenhar e a requalificar a cidade, que se quer para o futuro.

  • [LS1]termo muito repetido (tal como o ?verde?, ?cidadão?); procura sinónimos
  • [LS2] termo soft. Responsáveis, decisores, políticos, autarcas?
  • [LS3] munícipes, é uma alternativa na sinonimia
  • [LS4] já usada no parágrafo anterior
  • [LS5] frase confusa, mesmo em termos sintácticos
  • [LS6] idem
  • [LS7] o termo em português é convivência
  • [LS8] procura uma outra redacção
  • [LS9] alternativa: é o da implementação
  • [LS10] o termo em português é convivência

  
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Edição:

N.º 129
Ano 12, Dezembro 2003

Autoria:

António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal
António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal

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