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Activistas querem que medicamentos sejam declarados "bem público mundial"

Um grupo de participantes do Fórum Social Europeu (FSE), que se reuniu no mês passado em Paris, pediram que os medicamentos sejam declarados um "bem público mundial" como forma de suster o consumo excessivo dos países ricos e pôr fim às dificuldades de acesso dos países pobres.
A percentagem dos medicamentos nos gastos de saúde não pára de aumentar nos países industrializados, onde os laboratórios têm procurado "criar novas necessidades" nos utentes, criticou Valérie Van Belle, da Aliança Nacional dos Segurados Cristãos, uma associação de seguros mútuos que cobre perto de metade da população belga. Segundo esta activista, "os gastos em publicidade por parte dos grupos farmacêuticos na Bélgica representam o dobro do investimento aplicado em pesquisa", denunciou num seminário do FSE realizado em Ivry, nos arredores de Paris.
"A bulimia de medicamentos por parte dos países desenvolvidos já não é considerada um progresso", referiu Omax Brixi, da Federação de Segurados Franceses, que propôs "uma avaliação sistemática e independente da utilidade dos medicamentos". Em contrapartida, nos países em desenvolvimento, "quase metade da população não tem acesso a eles", disse por sua vez Jean-Pierre Unger, do Fórum Social Belga, que avaliou esta situação como uma ?autêntica bomba social".
O preço dos medicamentos é, segundo afirmam, a maior causa para este fenómeno. A Conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada em Doha (Qatar) em 2001, aceitou a prevalência da saúde sobre as patentes farmacêuticas, mas a medida não é encarada como suficiente. "É uma primeira etapa, mas não ganhamos a guerra", declarou Gaélle Krikorian, da Act-Up Paris, acrescentando que é necessário "simplificar" a solução proposta pelo acordo sobre o acesso aos medicamentos aprovado no final de agosto por 146 países da OMC.
As dificuldades na obtenção de medicamentos é especialmente evidente em África, onde vive 70% dos 40 milhões de pessoas contagiadas com o vírus da Sida no mundo e onde menos de 1% tem acesso a uma multiterapia, sublinhou o cientista camaronês Fred Eboko.
No Brasil, graças à produção de medicamentos genéricos desenvolvidos por um laboratório do Governo, 130 mil pessoas tiveram acesso gratuito à triterapia, lembrou o sindicalista francês Laurent Ziegelmeyer. "Saúde e educação são bens da civilização e devem ser defendidos a uma escala mundial", afirmou.


  
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Edição:

N.º 129
Ano 12, Dezembro 2003

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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