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Apoio à Escola Integrada da Ponte - Vila das Aves

MANIFESTO

Fazer a Ponte

Ao longo dos últimos 25 anos, apesar  das sucessivas (e falhadas) reformas, um colectivo de professores, com os alunos e os pais, desenvolveu, na Escola Primária nº1 da Ponte ? Vila das Aves, um projecto educativo ímpar, reconhecido a nível nacional e internacional. Esse reconhecimento traduziu-se, a nível institucional, pela conversão da Escola da Ponte, em Agosto de 2001, numa Escola Básica Integrada, alargando-se o âmbito do projecto a um percurso escolar, integrado e coerente, de nove anos. A sobrevivência deste projecto, por acção e por omissão do Ministério da Educação, está ameaçada.  A sua extinção representaria um empobrecimento inaceitável do nosso património educativo, sem que haja, da parte do Ministério qualquer razão plausível dos pontos de vista científico, pedagógico ou de política educativa.

Há razões para apoiar a Escola da Ponte

A criação da Escola Básica Integrada não representou uma resposta a problemas de oferta educativa local nem de racionalização da rede escolar, mas tão só o reconhecimento da singularidade e da riqueza pedagógicas deste projecto. Com efeito, a Escola da Ponte tem-se afirmado como uma ?escola diferente? em que a originalidade das soluções (não há ?anos de escolaridade? nem ?turmas?, os espaços são ?polivalentes? e os professores não se queixam da falta de condições para ?dar o programa?) se combina com o sucesso escolar e educativo das crianças e o envolvimento das famílias.
Nesta escola, os alunos são tratados como crianças que ?aprendem a ser gente?, com base na construção da sua progressiva autonomia para gerir tempos e espaços, planear actividades, gerir a informação, participar na sua avaliação, exercer os direitos de cidadania. Nesta escola, tem vindo a ser construída uma resposta pedagogicamente coerente, e eficaz, para lidar com a heterogeneidade do público escolar. É exemplar o modo como, nesta escola, são integrados e resolvidos os problemas dos chamados ?alunos difíceis? ou com ?necessidades especiais?.
O modo original de organizar o trabalho escolar dos alunos tem a sua contrapartida num modo, igualmente original, de organizar o trabalho dos professores. É particularmente estimulante a maneira como, nesta escola, se reequacionou a articulação entre trabalho individual e colectivo e entre generalismo e especialização, com base num colectivo de professores que constróem e exercem uma autonomia não outorgada e que não admite tutelas.

A Escola da Ponte não pede a Lua!

Desde há muitos meses que os professores, a associação de pais e a direcção da escola vêm solicitando ao Ministério que cumpra os compromissos assumidos e assegure as condições mínimas para viabilizar a continuidade deste projecto de nove anos de escolaridade.
As suas ?exigências? traduzem-se em solicitar:
Ao Ministério que celebre com a escola um contrato de autonomia que viabilize o seu projecto educativo;
A constituição de uma equipa, permanente, de acompanhamento e avaliação do projecto;
A disponibilização de instalações adequadas;
A adequada estabilização do corpo docente;
A libertação da Associação de Pais da Escola da responsabilidade dos encargos com a utilização do Ginásio;
A alteração da actual designação da escola para ?Escola Básica Integrada da Ponte?.

O Ministério da Educação faz o contrário do que diz

A retórica política da actual equipa ministerial tem enfatizado, como orientação central, o prémio ao mérito. A Escola da Ponte tem-se notabilizado pelos resultados obtidos pelos seus alunos nas provas de aferição à escala nacional. Neste caso, o mérito, em vez de premiado, é penalizado. O Ministério tem afirmado pretender favorecer o protagonismo das famílias, mas, neste caso, procede contra a sua vontade expressa. O Ministério afirma pretender a responsabilização das escolas através dos seus resultados, mas, neste caso, ignora-os e mostra-se incapaz de materializar um contrato de autonomia, previsto na lei. O ministério apregoa o rigor na avaliação, mas, neste caso, ignora as conclusões e recomendações da comissão de avaliação externa, por si designada.
O Ministério pretende negar a esta Escola Básica Integrada o cumprimento de competências que lhe são inerentes (promover uma escolaridade de nove anos) quando, paralelamente, impõe a constituição ?à força? de agrupamentos verticais que integram todos os ciclos do ensino básico.

Os professores da Ponte têm razão!

Os professores não aceitam a perversão do seu projecto e, por isso, recusam dar-lhe continuidade, nos termos que o Ministério pretende impor. Achamos que os professores têm razão e, como eles, perguntamos se ?é este o prémio que  o Ministério da Educação reserva para as escolas de qualidade?.
Como professores e educadores, estamos preocupados com o futuro do projecto da Ponte. Mas estamos, sobretudo, solidários com a comunidade educativa da escola e, em particular, com o grupo de professores que teimam em ser autónomos,  criativos e donos da sua profissão, sem para isso pedirem prévia autorização.
Fazendo nossas as palavras da Associação de Pais da Escola da Ponte, consideramos que ?seria um absurdo que, por um capricho de governantes, sempre transitórios, este projecto se extinguisse, ao fim de 27 anos?. É algo que não podemos aceitar e a todos envergonharia.

Subscritores do Manifesto ?Fazer a Ponte?

Abílio Amiguinho ? Angelina Carvalho ? Ariana Cosme ? Augusto Santos Silva ? Eduarda Dionísio ? Filomena Matos ? Francisco Pacheco ? Isabel Menezes ? João Barroso ? João Pedro da Ponte ? José Alberto Correia ? José Paulo Serralheiro ? Licínio Lima ? Luíza Cortesão ? Manuel Matos ? Manuel Porfírio ? Matias Alves ? Rui Canário ? Rui Trindade ? Steve Stoer

Pode subscrever este manifesto neste site.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 127
Ano 12, Outubro 2003

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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