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Quando quase desapareceu a duração da transmissão dos sinais?

COMUNICAÇÕES

O DESENVOLVIMENTO DOS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ELÉCTRICOS CRIOU UMA NOVA SITUAÇÃO NA ÁREA DA COMUNICAÇÃO. MARSHALL McLUHAN CHEGOU A BAPTIZAR ESTA NOVA SITUAÇÃO POR GALÁXIA DE MARCONI.

Com a implementação dos novos meios de comunicação eléctricos (1) a partir de meados do século XIX, primeiro a telegrafia e, pouco depois, o telefone, foi toda uma nova situação que foi introduzida na área da Comunicação. Marshall McLuhan, que parecia gostar das ?grandes? tiradas, pelo menos das deste género, declarou pelos anos sessenta do século XX o começo de uma nova fase eléctrica da Comunicação como sendo a da saída da galáxia de Gutenberg. Chegou mesmo a aventar a designação de galáxia de Marconi para a nova situação. Esquecia assim, de uma assentada, e pelo menos, Samuel Morse e a telegrafia e Graham Bell e o telefone.
Mas, escrevendo numa época em que a televisão começou a ser percebida como uma rainha dos meios de comunicação, ela mesmo - a televisão - fazendo parte da subgaláxia (continuemos pois a explorar a metáfora mcluanesca) dos meios de comunicação social eléctricos, uma subgaláxia, da qual também faz parte a Rádio, tida por muitos, então, como dominante, enfim, uma subgaláxia cujo meio de transmissão era o espaço livre (e livre é um antropomorfismo que dá pelo menos que pensar), terá parecido a McLuhan que o mais notório dos heróis das telecomunicações sem fios, Guglielmo Marconi, devia dar o seu nome à nova galáxia.
Contudo, a transmissão sem fios não era uma característica fundamental dos meios de comunicação social eléctricos ou meios de radiodifusão. É certo que McLuhan vivia numa época de entusiasmo ditada pela possibilidade do emprego dos satélites de comunicações para a televisão, a possibilidade de fazer chegar quase simultaneamente a todo o mundo os mesmo programas, um mundo transformado assim numa ?aldeia global?. Mas que a transmissão sem fios não era uma característica fundamental dos meios de comunicação social eléctricos veio a verificar-se mais tarde com o pulular por muito lado da televisão por cabo?
Nem os meios de comunicação social ?eléctricos? estavam sozinhos no terreno. A telegrafia e o telefone aí estavam com os seus fios. Inicialmente estes estavam à vista de todos tanto nas cidades como nos campos mas, aos poucos, foram desaparecendo sobretudo das áreas urbanas (foi-lhes acontecendo como aos fios da energia eléctrica e aos canos da água, agora também eles discretíssimos). É claro que certos troços das ligações de telecomunicações se materializaram através de meios rádio? e a telegrafia ?móvel? para as embarcações ou para os militares tinha de se efectuar via rádio. Mas, a parte ?pesada? das telecomunicações foi sempre a via cabo.
Contudo a grande diferença introduzida pelos meios de comunicação eléctricos foi, sem dúvida, a passagem a uma velocidade de propagação dos sinais para uma ordem de grandeza da(s) centena(s) de milhares de quilómetros por segundo. Se nos recordarmos que o som se propaga no ar a cerca de 340 m/s, portanto percorrendo as distâncias das conversações em milésimos de segundo, que dizer dos sinais electromagnéticos, os quais percorrem, durante 1 ms, 300 km no espaço livre ou cerca de 150 km se ?guiados? por fios condutores? Os mais exagerados chamam a este fenómeno o colapso do tempo, ou mesmo do espaço.
Com efeito, se, nas conversações face a face, em vez de percebermos que os sinais acústicos nos alcançam por propagação no ar nos parecer que estamos a escutar na fonte os sons que os nossos interlocutores produzem, na comunicação telefónica, ainda mais cedo nos chegando os sinais proferidos pelo aparelho fonador do nosso interlocutor -  quem fala, fá-lo para um bucal quase colado à sua boca; quem ouve, fá-lo através de um auscultador encostado à sua orelha -, por maioria de razão aquele estará confundido com nós mesmos. Algum afastamento só foi conseguido através da objectivação hodierna da sua imagem no videotelefone?

(1) O mais correcto é designá-los como electromagnéticos.

  
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Edição:

N.º 124
Ano 12, Junho 2003

Autoria:

Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom
Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom

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