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Balada para a Trégua Possível

1.

Esta é a trégua possível, merecida,
gerada no teu ventre de mulher.
Beijo, adiado, a tua face, vida!
E deixo, livre, o coração bater.

2.

Em teu macio olhar repousa o meu.
E na face polida assim formada
se reflecte e recria o próprio céu.

3.

Uma cigarra (obrigatório tropo!)
canta, em teus seios pousada.
Uma réstea de vida. Um quase nada.
Musical e alada
discípula de Esopo

4.

Um amor como este
não pede mar ou praia:
somente o vento leste
erguendo a tua saia.

O resto é o futuro
além, à nossa espreita:
doce fruto maduro
na hora da colheita.

10.

Tão próxima a colheita!
Tão amável o dia!
(Um gnomo verde espreita
tua figura esguia).

Tão claro e manso o rio!
Tão distante o horizonte!
(Um véu de névoa e frio
veste de espanto o monte.)

Tão próxima a partida!
Tão cedo para a morte!
(A secreta ferida
da vária, esquiva sorte).

Tão para pouco amor!
Tão solitário o medo!
(Entre o mar e a flor,
desvendo o teu segredo.)

Daniel Filipe, A invenção do amor e outros poemas, Editorial Presença.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 124
Ano 12, Junho 2003

Autoria:

Daniel Filipe
Poeta
Daniel Filipe
Poeta

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