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A guerra do filho do pai

O realizador Michael Moore, vencedor, este ano, do óscar para o melhor documentário, aproveitou o momento em que agradecia o galardão, no Teatro Kodak em Los Angeles, para se insurgir contra a guerra ao Iraque e contra a legitimidade democrática do presidente norte-americano George W. Bush, eleito com menos votos do que o adversário Al Gore.
Num dos filmes vencidos da noite dos óscares, o épico ?Gangs de Nova Iorque? , de Martin Scorsese,  alguém lembra que, na América, quem vence as eleições são os escrutinadores. Isso aconteceu no século XIX, no tempo de Bill, o carniceiro, lider do gang dos nativos, um fanático que usava um olho de vidro com uma águia imperial pintada no lugar da menina dos olhos, e, ao que alguns dizem, também na última eleição presidencial.
George W. Bush não será o filho do pai que parte à vingança contra um suposto carniceiro de Bagdad, desde logo porque George Bush pai apenas perdeu a reeleição na I Guerra do Golfo, tendo poupado Saddam Hussein que, à troca, também o poupou.
Estão bem um para o outro. O filho do pai voltou à carga tão certo da superioridade militar (jamais posta em causa)  quanto conseguira, previamente, mexer os cordelinhos e mandar uns inspectores ao território inimigo para ver que armas possuiam e destruir as que pudessem causar maiores danos. Em questão de ética militar estamos conversados.
Já no ataque ao Afeganistão, o Exército dos Estados Unidos da América pouco ou nada arriscara, avançando, previamente, pelo ar onde detém clara superioridade tecnológica. Como se a guerra, com mais ou menos directos, fosse um jogo para uma qualquer consola de 32 bits ou de calibre ainda maior.
Nos outros ecrans, Scorsese dava uma lição de história, lembrando que a tragédia do 11 de Setembro de 2001 não foi a primeira que se abatera sobre essa terra de emigrantes que é Nova Iorque.
Um filme assim jamais poderia ser premiado em Los Angeles. Pelo menos no ano da graça de 2003 e na quinta noite dos ataques americanos ao Iraque, tão desastrados que um míssil dos EUA já abateu um helicóptero do exército aliado britânico, um outro torpedo, também norte-americano, já atingiu um autocarro sírio que circulava junto à fronteira com o Iraque e dois ?patriots? despenharam-se em solo, desabitado, da Turquia.
Para a pequena história fica a expressão de uma alta patente militar britânica a endereçar os sentimentos aos familiares dos pilotos ingleses abatidos, por engano, pelo míssil norte-americano: ?foram atingidos por fogo amigo?. Efeitos colaterais de uma guerra cirúrgica.


  
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Edição:

N.º 122
Ano 12, Abril 2003

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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