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Professor, revolucionário dos saberes

Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática ?bancária ?são possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos. (Freire,1979).

Paulo Reglus Neves Freire, Paulo Freire, um dos grandes pensadores dos tempos, proferiu o que transcrevi no parágrafo inicial. O imediatismo da leitura nos assusta. Se ninguém educa ninguém, onde inserem-se os professores ? Após o imediato da leitura, nós professores somos remetidos a uma reflexão complexa sobre o que somos e para que somos, ou como Freire prefere: educadores.
A perspectiva da transmissão do conhecimento verticalizada demonstra uma prática estruturalista, germinada na sociedade burguesa com suas praxis e epistemologias próprias. O professor, acumulador dos saberes, transmite ao aluno seu conhecimento, impedindo que o conhecimento seja produzido,  impossibilitando uma dinâmica conjunta onde experiências são trocadas e a vivência seja compartilhada. Essa visão pertence ao passado, é praticada no presente e infelizmente tende a permanecer para o futuro.
Somente uma participação efetiva do professor, entendendo que o ensinar e aprender é epistemologicamente uma proposta dialética, complexa e dualista, onde o professor e o aluno estão inseridos na propositura de vivenciar os saberes em óticas diferentes, mas pertencentes a uma discussão conjunta, abrirão um campo inesgotável de conhecimentos recíprocos,  caminhando juntos e dimensionando a complexidade envolvida no e do objeto a ser estudado.
O diálogo entre professor/aluno deve ter uma relação harmônica.  É indiscutível o conhecimento que o professor deve adquirir sobre o conteúdo a ser discutido, e inquestionável a responsabilidade ética do professor sobre a forma de colocar o conteúdo a ser resolvido. Portanto, cabe ao professor, dentro da proposta que emerge do conteúdo programático, ser responsável pelos processos pedagógicos. Porém, não deve o mesmo ser individualista, verticalista, transmitindo somente o que é e como é. Deve partir do pressuposto que ensinar implica também o aprender e principalmente, criar a atmosfera necessária do aprender a aprender ensinando.
O conteúdo programático deve ser constantemente re-inventado. Quantas vezes estamos frente a uma discussão sobre um objeto e quando damos conta  já extrapolamos o contido? Essa extrapolação certamente se deu devido a horizontalidade da discussão com a participação efetiva dos alunos. Temos a intenção de romper com a proposta e retomarmos o conteúdo proposto. Com esta atitude autoritária e ditatorial,  boicotamos a construção de novos conhecimentos.
Devemos nos convencer de que não existe metodologia pedagógica inquestionável, infalível ou a melhor. A construção do conhecimento não permite um trânsito em linha reta e insofismável. O professor deve ser o artista que cria o diálogo pedagógico e exalta a participação do aluno. O monólogo não faz parte dos atos ensinar/aprender.

O educador se põe frente aos educandos como sua antinomia necessária. Reconhece, na absolutização da ignorância daqueles, a razão de sua existência. Os educandos, alienados, por sua vez, à maneira do escravo na dialética hegeliana, reconhecem em sua ignorância a razão da existência do educador, mas não chegam, nem sequer ao modo do escravo naquela dialética, a descobrir-se  educadores do educador. (Freire, 1981).

Para o processo pedagógico refletir nossas aspirações, o professor deve ser o revolucionário dos saberes. Revolucionário no sentido de auto contestar e modificar a si mesmo, não ficar preso aos rótulos existentes, tendo a liberdade, de como revolucionário, criar e re-criar a sua prática pedagógica.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 121
Ano 12, Março 2003

Autoria:

Juliano Breyner
Univ. de Alfenas, Minas Gerais, Brasil
Juliano Breyner
Univ. de Alfenas, Minas Gerais, Brasil

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