Página  >  Edições  >  N.º 121  >  POSTAL de lugar desconhecido

POSTAL de lugar desconhecido

Apesar de tudo nós sobrevivemos!

Caras e caros amigos

Olhando para trás, é difícil  acreditar que estejamos vivos. Nós viajávamos em carros sem cintos de  segurança ou air bag. Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em  frascos de remédios, portas, tomadas eléctricas ou armários e andávamos de bicicleta sem  capacete, sem contar que pedíamos boleia.

Bebíamos água directamente da  mangueira e não da garrafa. Gastámos horas a construir os nossos carrinhos de  rolamentos para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que nos tínhamos esquecido dos travões. Depois de colidir com  algumas árvores, aprendemos a resolver o problema.

Saíamos de casa de manhã,  brincávamos o dia inteiro, e só voltávamos quando se acendiam as luzes da  rua. Ninguém nos podia localizar. Não havia telemóveis. Nós partimos ossos e dentes, e não havia nenhuma lei para punir os  culpados. Eram acidentes. Ninguém para  culpar, só a nós próprios.

Tivemos zaragatas e esmurramo-nos uns aos outros e  aprendemos a superar isso.

Comemos doces e bebemos refrigerantes mas  não éramos obesos.
Estávamos sempre ao ar livre, a correr e a brincar. Compartilhámos garrafas de refrigerante e  ninguém morreu por causa disso.

Não tivemos Playstations, Nintendo 64, vídeo  games, 99 canais por cabo, filmes em vídeo, surround sound, telemóveis, computadores ou Internet.

Nós tivemos amigos. Nós saíamos  e íamos ter com eles. Íamos de bicicleta ou a pé até à casa deles e batíamos à porta. Imaginem tal coisa! Sem pedir  autorização aos pais, por nossa iniciativa! Sozinhos lá fora, no mundo cruel! Sem nenhum responsável! Como conseguimos fazer isto?

Fizemos jogos com botões, bastões, berlindes, piões e bolas  de ténis e de trapos e comemos minhocas e, embora nos tenham dito que aconteceria,  nunca nos caíram os olhos nem as minhocas ficaram vivas na nossa barriga  para sempre.

Nos jogos da escola, nem toda a gente fazia parte da equipa. Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com  a decepção. Alguns estudantes não eram  tão inteligentes quanto os outros. Eles repetiam o ano! Que horror! Ninguém inventava testes extras.

Éramos responsáveis pelas nossas acções e arcávamos com as consequências. Não havia ninguém que pudesse  resolver isso. A ideia de um pai protegendo-nos, se desrespeitássemos alguma  lei, era inadmissível! Eles protegiam as leis! Imaginem!

A nossa geração produziu alguns  dos melhores consumidores de risco, criadores de soluções e inventores. Os  últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas ideias.

Tivemos liberdade, fracasso,  sucesso e responsabilidade, e aprendemos a lidar com isso.
Se és um deles, Parabéns!

Lembrem isto a outros que  tiveram a sorte de poder crescer como crianças, antes dos legisladores e dos governos lhes regularem a vida, para seu próprio bem.

Autor e lugar desconhecidos


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 121
Ano 12, Março 2003

Autoria:

Redacção

Redacção

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo