Estou retornando do Fórum Social Mundial de Porto Alegre transbordante de entusiasmo que, de tão grande, precisa ser compartilhado. Eis porque lhes escrevo, companheiros e companheiras leitores e leitoras da Página da Educação. Cem mil pessoas, vindas de todos os cantos do mundo, ali se reuniram para pensarem juntas um mundo melhor, congregadas pela esperança de que é possível se construir um mundo melhor. Eram homens e mulheres; jovens, idosos e crianças; europeus, africanos, latino-americanos, norte-americanos, asiáticos, eurasianos e, quem sabe, até alguns extra-terrestes. O que havia de comum entre tantas diferentes pessoas? Respondo eu, que o que o ser humano tem de melhor ? a generosidade, a solidariedade, a capacidade de compartilhar, de doar-se, a esperança e a capacidade de lutar por um mundo melhor. Estas cem mil pessoas que circulavam nos diferentes espaços em que aconteciam conferências, debates, mesas-redondas, painéis, entremeados por shows musicais e teatrais e cinematográficos e por simples e cotidianos encontros, no dia 23 foram se aproximando do ponto de encontro para a Passeata pela Paz. Cada grupo carregava as suas bandeiras, suas palavras de ordem e seus cantos. Quilômetros do centro da cidade cobertos pelo colorido das bandeiras pelas cores diferentes das peles e dos cabelos, pelo desenho diferente das roupas que se mesclavam num imenso rio multicultural. Diferentes nacionalidades, diferentes etnias, diferentes ritmos, diferentes línguas, que compunham um desenho multicolorido mostrando que a paz é multicolorida pois é o resultado do mais rico processo de hibridização de que se tem notícia. Ali estavam palestinos e israelenses, ali estava o MST do Brasil e o MST do Paraguai, ali estavam catadoras de lixo e um grupo de poetas, ali estava a CUT, o PC do B e o PSTU, ali estava a população de Porto Alegre aplaudindo a massa colorida que passava. No dia seguinte, a mesma multidão convergiu no final da tarde para um imenso espaço denominado Pôr do Sol, para ouvir o Lula, para ouvir a sua explicação para ir a Davos, o que tantos e tantas discordavam que o fizesse. Era a hora do pôr do sol, o Lula falava e a energia que circulava era tão forte que entrava pelos corpos e se espalhava pela terra e produzia uma luminosidade que a todos emocionava. E a palavra de Lula ia convencendo os mais resistentes, que os outros já há muito estavam convencidos, da importância de se apresentar em Davos, não como devedor, destino esperado de um representante do Terceiro Mundo, mas como credor, que vem altivamente para, em nome dos povos deserdados da terra, cobrar uma velha conta. Seu discurso foi doce mas firme, amoroso mas contundente, sem deixar qualquer dúvida do papel que primeiro o Brasil, mas agora o mundo lhe outorgava. Era o estadista do mundo que falava e que nos enchia de orgulho. Eu poderia falar nos brilhantes conferencistas, na fala de portugueses como Boaventura Santos ou Mário Soares, de norte-americanos como Noam Chomsky ou Fredric Jameson, de uruguaios como Eduardo Galeano, de argentinos como Fernando Solanas ou Adolfo Perez Esquivel, de franceses como Armand Mattelard ou Ignácio Ramonet, de egipcios como Samir Amin, de africanos como Willy Madisha, de Susana George das Filipinas, de Tarik Ali do Paquistão, de Isztvan Mészáros da Inglaterra e de tantos e tantas outros que traziam as suas experiências e as suas esperanças para generosamente compartilhar. Mas a grande estrela foi o Lula, esperança do mundo por um mundo melhor.
Um outro mundo é possível Un outro mundo es posible Un autre monde est possible Another world is possible
Este slogan carregamos cada um de nós e nos inspira por continuar a lutar.
|