Cientistas do Comité de Energia Atómica (CEA) de Grenoble criaram ratos com características esquizóides que estão a ser submetidos a testes em dois laboratórios internacionais na esperança de se encontrar medicamentos para combater a esquizofrenia, uma doença que atinge cerca de 2% da população mundial. A história desta criação começa em 1996, quando uma cientista, Annie Andrieux, questionou o que aconteceria se o organismo de um rato se visse privado da proteína STOP (Stable only polypeptide). "Achávamos que morreriam, mas sobreviveram e mostraram um comportamento estranho: hiperactividade, ansiedade, retraimento social, carência total de comportamento maternal", explicou. Os trabalhos confirmam esta "disfunção". Quando um macho normal passa um mês sozinho na sua gaiola e outro macho criado em grupo é introduzido, o primeiro residente ataca o recém-chegado. Se o macho carece de proteína STOP, deixa sossegado o novo rato e inclusivamente aceita ser dominado, explicou Andrieux. Os comportamentos estranhos dos ratos podem ser classificados como depressão, mas os antidepressivos não causam qualquer efeito, ao contrário dos neurolépticos (utilizados para tratar a esquizofrenia no homem). "Um tratamento longo melhora claramente o comportamento do rato, e a fêmea consegue ocupar-se de algumas crias que sobrevivem", acrescentou Andrieux. Para o dr. Bernard Renaud, professor de farmacologia e director de uma unidade do Instituto de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM), o rato esquizóide apresenta a vantagem de constituir um modelo de estudo estável. "A indústria farmacêutica precisava de um modelo animal para as doenças psicológicas", explicou. As gigantes farmacêuticas Merck e Roche passaram um mês a testar os ratos de Grenoble. A Merck usou seis casais de ratos durante nove meses e a Roche observou outros dez casais através de um contrato que implica o pagamento de direitos se os ratos permitirem a fabricação de um medicamento. "Desenvolver um novo remédio custa 600 milhões de euros e não é provável que isso aconteça num período inferior a dez anos", afirmou Andrieux. Em França, por exemplo, a esquizofrenia tem um custo social de 30 mil milhões de euros anuais, segundo Andrieux.
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