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Irão: a lenta conquista do poder pelas mulheres

Pelo quarto ano consecutivo, o número de raparigas a entrar no sistema de ensino superior do Irão ultrapassa largamente o dos rapazes. Dos 195 mil estudantes admitidos no ensino superior 122 mil eram mulheres, o que representa 62,5% dos candidatos, sendo que dos 1,45 milhões que realizaram os exames de ingresso 59,7 eram do sexo feminino.
"O crescente afluxo de mulheres no sistema de ensino nos últimos anos restabeleceu a paridade entre os 1,7 milhões de estudantes iranianos, que, a este ritmo, fará com que as estudantes sejam mais numerosas num futuro próximo", afirma Elaheh Koulae, deputada do parlamento iraniano. E se, tradicionalmente, as raparigas ultrapassam o número de rapazes nas áreas não científicas, aproximam-se agora da igualdade também nesta matéria.
Esta tendência está a preocupar a classe política e religiosa ultra-conservadora, para quem as mulheres encorajam a "corrupção", como escreveu recentemente o jornal Ya Lessarat, órgão oficial do Ansar Hezbollah, grupo islâmico puro e duro. Este jornal pediu a instauração de quotas para evitar a criação de um "perigoso desiquilíbrio", nomeadamente para a área da medicina, de forma a que o país não se veja a braços com um número excessivo de médicas (no Irão existe a separação completa de sexos nos hospitais). Este pedido foi rejeitado pelo parlamento iraniano. 
"As raparigas dedicam-se aos estudos porque não têm outros meios de expressão", afirma por seu lado a deputada Jamilah Kadivar. Esta tendência faz com que as mulheres tenham maior consciência dos seus direitos e aumente o seu poder de reivindicação, nomeadamente no que se refere ao trabalho, o que a breve trecho poderá constituir uma enorme pressão sobre o poder político. "Em dois ou três anos o país terá de fazer face a uma vaga de mulheres diplomadas que ocupará cargos de direcção nos escalões intermédios, e isso poderá trazer alterações de fundo na sociedade iraniana", explica Kadivar. Actualmente, as mulheres não constituem mais do que 12% da população activa do país.


  
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Edição:

N.º 119
Ano 12, Janeiro 2003

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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