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Congresso Mundial de Bioética analisa poder e injustiça da medicina

"Bioética, poder e injustiça" foi o tema do VI Congresso Mundial de Bioética que se realizou no passado mês de Novembro em Brasília, no qual filósofos, médicos e políticos analisaram as possibilidades actuais da ciência e o financiamento que pode decidir sobre a vida ou a morte.
O Projecto do Genoma Humano, os avanços na engenharia genética, os trasplantes de órgãos e de tecidos humanos são alguns dos recentes desafios éticos que as novas tecnologias e os avanços da ciência colocam em cima da mesa. Ainda assim, permanecem os "velhos" problemas não resolvidos, como a eutanásia, o aborto, a exclusão social, o acesso aos medicamentos ou a um simples médico, a discriminação das mulheres, o racismo ou o abandono dos menores e dos velhos.
Os espectaculares avanços tecnológicos deixam a descoberto, porém, uma realidade paradoxal. Enquanto que há pouco tempo o conhecimento relativo à epidemiologia, o diagnóstico, a prevenção, a terapia e a reabilitação estavam disponíveis em boa parte do planeta, tornam-se agora "cada vez mais selectivos", sublinhou o director do congresso, o brasileiro Volnei Garrafa "Poucos podem beneficiar desses avanços e sobreviver; outros, muito mais numerosos, não podem pagar e morrem", concluiu.
Para ilustrar a falta de bioética no mundo actual, Garrafa referiu-se aos "pacotes de princípios éticos" que os países ricos desenvolvem e que pretendem tornar universais. "As descobertas são maravilhosas mas deixam a maioria da população à margem do processo de desenvolvimento".
Giovanni Berlinguer, actual presidente do Comité de Bioética italiano e membro internacional da matéria na Unesco, considera que o aspecto mais controverso em relação à ciência é o chamado "biomercado", ou seja, a "compra tecnológica, a venda, o aluguer e o empréstimo do corpo humano". O médico italiano criticou ainda o poder da medicina sobre o paciente, que tem "reflexos na liberdade individual", destacando, porém, que a biotécnica, aparecida como neologismo e disciplina nos Estados Unidos em 1971, tenha aberto novos horizontes para as decisões sobre o nascimento e a morte, as terapias e as relações entre as gerações de seres vivos.


  
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Edição:

N.º 118
Ano 11, Dezembro 2002

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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