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As mulheres e o mosaico do desenvolvimento humano

A luta inexorável pela igualdade dos sexos mudará a maior parte das actuais premissas da vida social, económica e política. Acabar com a desigualdade dos sexos nada tem a ver com o rendimento nacional. O rendimento não é o factor decisivo. Várias nações pobres do mundo têm conseguido aumentar as taxas de alfabetização feminina. Com recursos limitados mas com um forte compromisso político, a China, Sri Lanka e Zimbabwe aumentaram a alfabetização feminina para 70% ou mais. Em contrapartida, vários países ricos ficaram para trás. Enquanto as portas para as oportunidades na educação e na saúde se abriram rapidamente para as mulheres, as portas das oportunidades na economia e na política estão apenas entreabertas. O maior índice de rejeição é o facto de muitas das contribuições económicas da mulher serem grosseiramente subavaliadas ou desvalorizadas?na ordem dos 11 biliões de dólares. A contribuição não-monetarizada, invisível das mulheres é de 11 biliões de dólares por ano. Outro elemento importante da discriminação é o inaceitável baixo estatuto das mulheres na sociedade com a contínua discriminação legal e a violência a que estão sujeitas. Os estudos levados a cabo no Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos, sugerem que uma em cada seis mulheres é violada. Os dados referentes a África, América do Sul, várias ilhas da Melanésia e Estados Unidos apontam a violência conjugal como a principal causa do suicídio feminino. Os estudos levados a cabo em Barbados, Canadá, Paises Baixos, Nova Zelândia, Noruega e Estados Unidos, revelam a existência de abusos sexuais durante os primeiros anos e a adolescência.
É pouco provável que o livre funcionamento dos processos económico e político conduzam à igualdade de oportunidades. A revolução pela igualdade dos sexos deve ser impulsionada por uma estratégia concreta pela aceleração do progresso. A intervenção do estado é necessária?através de orientações políticas e de acções afirmativas. Incentivar os homens a participar no cuidado da família. Permitir horários de trabalho flexiveis. Alguns países criaram hábitos de «tempo flexível» para permitir aos trabalhadores combinar necessidades familiares com horários de produção. É necessário alargar o conceito de serviço público. Alguns países têm alargado o conceito de serviços públicos para além da educação e saúde indo até à assistência infantil? tais como centros públicos de assistência diurna e almoços na escola.
A nova ordem mundial tem que pôr as pessoas ? mulheres e homens ? no centro de todos os processos de desenvolvimento.
Nos países em desenvolvimento a escolaridade conjunta no primário e secundário de raparigas aumentou de 38% para 68% nas últimas duas décadas. Nestes países durante as últimas duas décadas, as taxas de fertilidade diminuíram mais de um terço. A mortalidade materna nos países em desenvolvimento, de 350 por 100.000 nados vivos, é cerca de nove vezes maior do que nos países da OCDE. Nos países em desenvolviemto as mulheres detêm apenas cerca de 10% dos lugares parlamentares.
Nos países industrializados na ciência e tecnologia no ensino superior, o número de raparigas por cada 100 rapazes mais do que duplicou, de 25 em 1970 para 67 em 1990. Nestes países as mulheres representam agora mais de 40% da força de trabalho e detêm 28% das posições administrativas e de gestão. Nos países industrializados a taxa salarial não-agrícola de mulheres é apenas três quartos da dos homens. Nestes países as mulheres detêm apenas 12% dos lugares parlamentares.
Desde a criação do Prémio Nobel em 1901 e até 1992, dos 634 prémios individuais apenas 28 foram atribuídos a mulheres, 12 das quais partilharam o prémio com homens. oito mulheres receberam o prémio Nobel da literatura (91 atribuídos) a nove mulheres foi atribuído o prémio Nobel da paz (80 atribuídos). cinco mulheres (quatro em conjunto) foram reconhecidas em medicina ou fisiologia (158 atribuídos), quatro (duas em conjunto) em química (121 atribuídos), duas (em conjunto) em física (146 atribuídos). Nenhuma mulher recebeu o prémio Nobel em economia (38 atribuídos), um domínio exclusivamente masculino.
A Noruega, um dos primeiros países a garantir o sufrágio das mulheres, goza da reputação de ter um dos sistemas políticos com maior equilíbrio sexual do mundo. Políticas consultivas, mais do que confrontacionais, contribuiram para que a competição política se centrasse nos problemas, incluíndo os das mulheres. Essas mesmas políticas consultivas, centradas sobre problemas reais, elevaram a participação política de mulheres e homens. A igualdade não é um objectivo tecnocrático ? é um compromisso político global. Não deve haver nenhuma tentativa de oferecer um modelo universal de igualdade sexual. As interpretações de alguns direitos são diferentes em sociedades diferentes, dependendo das religiões, culturas ou tradições. Variam as preferências actuais das sociedades e a forma como as pessoas querem exercer as suas livres escolhas. Cada sociedade ? e os movimentos activos dentro dela ? devem debater se o resultado é aquilo que a sociedade realmente deseja ou um reflexo das barreiras estruturais que deviam ser retiradas.
O paradigma do desenvolvimento humano, que coloca as pessoas no centro das preocupações, teria pouco significado se não fosse completamente sensível aos sexos.

Fonte: relatórios sobre o desenvolviemto humano


  
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Edição:

N.º 116
Ano 11, Outubro 2002

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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