Como eu gostava de ser cavalo?
Bastava que, ao ollhar para o espelho, pudesse ver, em vez
de pés e mãos, cascos e uma cauda no traseiro e uma cabeça de cavalo autêntica,
para ir direito ao departamento de habitação?
"Quero um andar grande e moderno", diria.
"Tem de preencher uma requisição e esperar a sua vez".
"Ah, ah, ah, havia de rir. "O cavalheiro não vê que não
sou nenhum vulgar homem de rua? Sou diferente, sou especial".
Logo a seguir, dar-me-iam um grande e espaçoso andar com
casa de banho.
Faria espectáculos numa revista e ninguém se atreveria a
dizer que não tinha talento ? mesmo se o texto não prestasse. Pelo contrário
haviam de elogiar-me.
"Não é uma maravilha, para um cavalo?", diriam.
"Que cabeça!" comentariam outros.
Depois viria todo o gozo dos ditados e provérbios: "Senso
de cavalo", "A cavalo dado não se olha o dente", "Um reino para um cavalo",
"Um cavalo cinzento"?
Havia de despertar o interesse das mulheres. "Você é tão
diferente", diriam.
E, quando chegasse o tempo de ir para o céu, arranjaria
um par de asas, naturalmente. Tornar-me-ia num Pégaso. Um cavalo alado! Pode
existir porventura melhor destino para um homem?
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