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Quero ser cavalo

Como eu gostava de ser cavalo?

Bastava que, ao ollhar para o espelho, pudesse ver, em vez de pés e mãos, cascos e uma cauda no traseiro e uma cabeça de cavalo autêntica, para ir direito ao departamento de habitação?

"Quero um andar grande e moderno", diria.

"Tem de preencher uma requisição e esperar a sua vez".

"Ah, ah, ah, havia de rir. "O cavalheiro não vê que não sou nenhum vulgar homem de rua? Sou diferente, sou especial".

Logo a seguir, dar-me-iam um grande e espaçoso andar com casa de banho.

Faria espectáculos numa revista e ninguém se atreveria a dizer que não tinha talento ? mesmo se o texto não prestasse. Pelo contrário haviam de elogiar-me.

"Não é uma maravilha, para um cavalo?", diriam.

"Que cabeça!" comentariam outros.

Depois viria todo o gozo dos ditados e provérbios: "Senso de cavalo", "A cavalo dado não se olha o dente", "Um reino para um cavalo", "Um cavalo cinzento"?

Havia de despertar o interesse das mulheres. "Você é tão diferente", diriam.

E, quando chegasse o tempo de ir para o céu, arranjaria um par de asas, naturalmente. Tornar-me-ia num Pégaso. Um cavalo alado! Pode existir porventura melhor destino para um homem?


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 116
Ano 11, Outubro 2002

Autoria:

Mrozeck
Escritor
Mrozeck
Escritor

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