Eles afirma-se palestinianos e árabes antes de serem
cristãos, embora em Belém, berço da cristandade, sejam
por vezes considerados "cosmopolitas" pelos seus compatriotas muçulmanos,
que lhes reprovam o facto de procurarem refúgio no exterior em vez de
lutar contra Israel. Os cristãos representam hoje em dia apenas 2% da
população da Terra Santa, onde os casamentos mistos entre as duas
comunidades são escassos. Porém, de acordo com Suleiman, que interrompe
uma aula sobre o Corão na mesquita situada frente à Basílica
da Natividade, construída no lugar onde segundo a tradição
cristã se pensa ter nascido Cristo, "as relações entre
muçulmanos e cristãos são excelentes".
"Os recentes acontecimentos contribuíram para nos aproximar e os
muçulmanos respeitam mais os cristãos", explica, em referência
aos militantes palestinianos que se refugiaram naquela igreja, no começo
de Abril, quando eram perseguidos pelas forças israelitas. A partir destes
acontecimentos, os muros de Belém foram cobertos com cartazes glorificando
os shuhada (mártires muçulmanos) mortos durante a Intifada, um
acto contrário às práticas do cristianismo. "Isto
não significa que não apoiemos a Intifada contra Israel. Somos
antes de tudo palestinianos e árabes", destaca Jalal Anastas, um
arquitecto cristão ortodoxo. Por seu lado, George Hazbun, director do
Ministério palestiniano do Interior em Belém, detido três
vezes ao longo da vida pelo exército ocupante, assegura que os israelitas
"não fazem distinção entre muçulmanos e cristãos
no que respeita aos maus-tratos".
Mas alguns muçulmanos não compartilham esta opinião e acusam
os cristãos de gozar de privilégios por parte do exército
israelita, que mantém a cidade bloqueada praticamente desde o começo
da Intifada no final de Setembro de 2000.
"Os cristãos conseguem por vezes passar pelos postos de controle
para viajar para Jerusalém. Mostram a cruz que levam e os soldados deixam-nos
passar", afirma Mohammad, um jovem estudante da Universidade de Belém.
A muçulmana Nabila Dakkak, que ensina sociologia nesta universidade,
fundada pelos cristãos mas na qual os muçulmanos são maioritários,
comenta que "os cristãos não estão dispostos a lutar
por esta terra". Além disso, recorda Dakkak, "os cristãos
sempre foram mais ricos e geralmente gozaram de mais educação
do que os muçulmanos. Quando a situação se torna mais difícil,
vendem tudo, vão para o exterior e declaram-se muçulmanos".
|