Da década de 70, lembro-me sempre da professora de
Língua Portuguesa, dona Aracy. Um dia, ela nos disse que escreveria um
livro com esse nome. Ela contou como seria a capa. Ao fundo, em meios tons e
letras pequenas, a expressão "a máquina", repetida várias
vezes, em muitas linhas ...a máquina, a máquina... Sobre esse
painel de "máquinas", um carimbo: A PROFESSORA. Aquela idéia
ficou para mim como um retrato em alto contraste do ofício de ensinar
sob um estado de coisas que desvaloriza quem ensina.
Eu me lembro disso agora, quando inicio a análise, um
pouco cansada da rotina de final de semestre, da Coleção
Entendendo de Informática, publicada por uma editora do ES ?
Editora Camargo. Trata-se de um conjunto de livros do Ensino Infantil ao Ensino
Médio que pretende ser um caminho que explicita o uso da tecnologia numa
proposta interacionista e histórico-social. É uma coleção
em homenagem ao aluno, ao professor, aos pais, à instituição
escolar, à comunidade, à sociedade.
Tecnologia, informática e Educação... Fala-se muito de
tecnologias. No entanto, há um ressignificado da noção
de tecnologia (revoga a de informática), da noção de multimídia
(revoga a de audiovisual). Esse novo enfoque interfere no modo como pensamos
sobre nós, educadores: queremos ser criativos, Inovadores, tecnológicos.
A informática na escola é bem vista pela sociedade. E o professor,
comprometido com seu crescimento, torna-se, com facilidade, um agente que viabiliza
o acesso desse produto de sucesso no mercado.
O diferencial dessa coleção didática é exatamente
a possibilidade real de o professor exercer seu papel de facilitador no processo
ensino-aprendizagem. Refiro-me ao professor ? educador ? regente
de sala e não ao técnico de informática. Entendendo
de Informática não fica nas superficialidades do ensino
com computador ou do informatiquês. Vai fundo. Tem o mérito insubstituível
de revelar idéias e projetos educacionais tão interessantes, viáveis
quanto ousados.
É um desafio para professores e educandos. Senso comum é dizer
que professor sofre, ganha pouco, é injustiçado. Diz-se, também,
que é resistente a novidades, quadradinho, tem medo do novo. Nossa sociedade,
obcecada pelas miragens sedutoras das mercadorias e pelos índices de
popularidade, corroeu a imagem do professor.
Hoje, ao separar meu tempo para apreciar uma novidade que surge no mercado editorial
? material didático que confia, crê e investe no potencial
criador do professor volto àquela professora, dona Aracy, que nos anos
70 quis escrever um livro. Ela não se esqueceu do valor de ser professor.
Nenhum professor esquece. Por ela, por mim e por meus filhos, não me
permito ser pessimista. As coisas estão mudando.
Prova disso é vermos uma editora nascente, investindo num material didático
criativo, interacionista, com fundamentação teórica sólida
que exige do professor a diferença, a constância da formação,
a consciência de que as máquinas não são capazes
de desenvolver valores, hábitos, atitudes. Aliás, as máquinas
quebram, emperram, tornam-se obsoletas. Quanto aos professores, eles estão
aí, às vezes, entristecidos mas inteiros, desprestigiados mas
altivos. E, agora, pode interagir com uma equipe multidisciplinar que compartilha
com os ideais de Educação para autonomia.
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