A dualidade de critérios em política é uma realidade permanente. Hoje há os
terroristas e os lutadores pela democracia. Temos os bons que destroem e matam
em nome da democracia e temos os maus que violentam e matam fora da ordem
estabelecida. Os ricos e poderosos reúnem sempre na mais completa legalidade e
fazem-no sempre para bem dos povos e da boa ordem democrática, mesmo quando das
suas decisões resulta mais pobreza, mais marginalização, mais poluição, mais
fome, mais destruição, mais infelicidade e morte. Os que se organizam para
contestar estas medidas e para propor outras em sua substituição, são
considerados arruaceiros, perigosos terroristas, bandidos, nos melhores dias
são tidos como irresponsáveis e parvos. Para com eles o poder e os seus
ventríloquos, nas palavras de Mário Mesquita, têm ou bordoada ou um profundo
desprezo.
Por todo o mundo alarga-se o fosso entre os cidadãos e (nós) os outros. Os que
têm direitos por estarem com o pensamento dominante e os que não têm direitos
por terem outras visões do mundo. É preocupante que esta doença galopante
também esteja a tomar conta dos países que fazem a União Europeia.
Os actos de violência da polícia espanhola praticados contra cidadãos
portugueses que queriam participar numa manifestação em Sevilha, no fim de
Junho, são de todo condenáveis e merecem um profundo repúdio. Mostram que o
governo espanhol concedeu a si próprio o direito de dar ou retirar direitos de
cidadania a seu belo prazer. É caso para nos interrogarmos se em vez de serem
cidadãos e alguns deputados portugueses fossem franceses, ingleses ou alemães,
se a polícia e o governo espanhóis teriam o mesmo comportamento. Se os cidadãos
e deputados espancados fossem militantes da Opus Dei, a caminho duma sua
manifestação, teriam o mesmo tratamento? Compete aos governos dar ou retirar
direitos de cidadania? Será que lhes compete passar atestados de bom ou mau
comportamento político em função da sua própria ideologia? A bitola para medir
comportamentos políticos é a dos senhores Bush, Aznar ou Blair?
Perante estes acontecimentos reprováveis a atitude do nosso Presidente da
Assembleia da República é de enaltecer. A atitude cobarde e subserviente do 1º
ministro português e do resto do seu governo, merece uma viva condenação.
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