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Estrututa social e ecológica" no Parque da Cidade

Estivemos ali no Parque da Cidade a comemorar o Dia da Árvore, a recordar Joseph Beuys que há 20 anos deu início à plantação de 5 mil carvalhos na cidade de Kassel, para revelar a simplicidade de nos tornarmos militantes ecologistas de acção directa e ao mesmo tempo cidadãos artistas.

Primeiro descrevo a acção directa:

O Ignácio desenhou no chão um dragão mitológico com farinha de milho. Era a lembrança de uma figura xamânica como aquelas que os índios navajos fazem antes das sementeiras, para atirar bons augúrios da terra-mãe.
O Franklin tirou uns acordes plangentes de uma cítara do extremo oriente que comoveu a assistência.
Fez-se uma conversa meditativa sobre o milho como cereal essencial da economia ibérica: o milho salvou da fome milhões de famintos, na península, quando os navegadores trouxeram o precioso cereal da América Latina. Daí em diante, nas terras do noroeste, meio hectare dum campo fértil dava 1500 Kgs de milho para o pão das famílias, folhagem para o gado, miolo da maçaroca para acender fogo, folha larga para cestaria e caniçadas para ajudar a cobrir telhados de colmo.
Meditou-se sobre o futuro desse espantoso cereal. E se um dia os transgénicos tornassem as sementes estéreis como aquelas pedrinhas roliças que comparamos com as sementes?
O João e a Graça distribuíram broa de milho entre o pessoal. Foi o chamar a atenção do sabor da vida e ao mesmo tempo viver o gesto da partilha.

Agora descrevo o princípio da arte social:

O círculo de cidadãos ensaiou a prática mágica do semeador para consciencializar os princípios básicos da sua própria autonomia e reforçar o gesto pacífico na defesa dos bens públicos da natureza.

Finalmente concluo sobre o significado da arte social:

Daquela festividade simbólica que era um misto de espiritualidade e arte, revelava-se a consciência cívica auto-gestionária. Foi um exercício, um ensaio geral modesto, mas de exemplaridade pedagógica, no caso de o Parque da Cidade voltar a estar ameaçado pela manápula especulativa imobiliária.
O que se experimentou nesta acção directa da Associação Campo Aberto e Revista Ar Livre, foi uma "escultura social", prática de intervenção cívica e ecológica onde a criação, a autonomia e a intervenção pacífica revelaram os princípios da acção desenvolvida por Ghandi através do militante pacífico (satiagrahi) e do princípio da acção pela autonomia e auto-gestão (swami). Revelou-se também o movimento cívico de cidadãos artistas que Beuys preconizou, na busca da artisticidade interventiva - a "escultura social e ecológica".

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Proximamente a Associação Campo Aberto organizará outras acções de formação e intervenção cívica e ecológica, nomeadamente plantar árvores na Serra de Arga.


  
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Edição:

N.º 112
Ano 11, Maio 2002

Autoria:

Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto
Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto

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