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Afinal, onde está a escola?

Discutir escola exige que se pense sobre o que acontece com quem entra na escola e como, quem entra, sai da escola, ao final da escolaridade, que varia de sociedade para sociedade, de acordo com o valor dado à educação.

No Brasil, nem todos têm o direito garantido de entrar na escola, apesar de uma lei bastante antiga que torna a escola compulsória para todas as crianças de 7 a 14 anos. e, apesar de, ainda que tardiamente como resultado de muita luta, os historicamente excluídos, terem sido admitidos neste espaço tão mitificado. No entanto, entrar na escola não garante ter atualizada a promessa de uma nova vida como resultado da escolaridade. As estatísticas revelam que os afro-descendentes têm tido muito menor oportunidade de escolaridade do que os euro-descendentes e que os indígenas conquistaram menos oportunidade de acesso à escola do que as populações afro-descendentes. Estas barreiras que se mantêm, vão resultando em menores oportunidades de ascensão social, em pouco acesso a funções de mando, em falta de reconhecimento social. O Brasil ainda é uma sociedade do - "Sabe com quem está falando?" - o que significa - "Ponha-se no seu lugar". É incrível que só em 2002 tenha sido possível a inclusão de uma afro-descendente e de uma indígena no Conselho Federal de Educação, órgão máximo da política educacional brasileira. Tão inusitado foi que todos os jornais da república deram grande destaque a uma notícia que, fossem outros os nomeados, não valeria mais do que uma pequena nota no interior do jornal. Se se perguntar a qualquer brasileiro médio, que não um atento profissional da educação, quem são os demais conselheiros federais de educação, ele não saberá responder. Assim também, só foi possível em 2002, termos pela primeira vez uma governadora negra no Estado do Rio de Janeiro, e não que tenha sido eleita, mas apenas porque sendo ela vice-governadora, foi alçada à condição de governadora, dado que o governador eleito se afastou do cargo para postular a presidência da república.

Isto tudo para lhes dizer que pretendemos tratar neste canto de página, que se denominará AFINAL ONDE ESTÁ A ESCOLA? dos limites que foram colocados historicamente aos que foram excluídos de tudo, inclusive do direito à escola. Mas traremos também o que tem sido o resultado na escola da luta da classe trabalhadora, da luta do movimento negro, da luta das populações indígenas, da luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra pelo direito à escola. Traremos o cotidiano da escola onde se dá a luta entre os que desejam manter o status quo e os que tentam se organizar para mudar a sociedade. Falaremos do interior da escola mas falaremos também do exterior à escola; falaremos dos movimentos sociais que pressionam a escola e da dificuldade que as professoras encontram quando desejam mudar a sua prática pedagógica e vão em busca de uma formação continuada que lhes possibilite criar alternativas pedagógicas que possam responder aos anseios das crianças afro-descendentes, indígenas, filhas de trabalhadores ou de desempregados ( que o número é crescente) as que vivem nas favelas, as tantas crianças que acompanham seus pais na busca de terra para se assentar e plantar para sobreviver.

Não por acaso um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra tem um mote sempre repetido por todos os militantes - "queremos pôr abaixo as cercas da propriedade rural, mas isto não nos basta, queremos também pôr abaixo as cercas da ignorância". Eles querem escola, mas não é qualquer escola. Querem uma escola sintonizada com um projeto emancipatório de sociedade, uma escola em que os alunos e alunas sejam potencializados para mudar o mundo e, mudando o mundo, mudarem as suas vidas.


  
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Edição:

N.º 112
Ano 11, Maio 2002

Autoria:

Regina Leite Garcia
Univ. Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil
Regina Leite Garcia
Univ. Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil

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