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Do Cinema e Audiovisual na escola

Neste espaço, proponho-me abordar a questão do Cinemas e Audiovisual na escola. Não tendo, Portugal, tradição de integração do Cinema e Audiovisual nos planos curriculares tradicionais, abordarei esta problemática no âmbito da Memória Final de um C.E.S.E. de Expressão Artística Integrada em Educação.
O estudo que está elaborado e a minha experiência enquanto docente de Cinema e Audiovisuais serão as bases a partir das quais tentarei contribuir aqui para uma elucidação desta temática, esclarecimentos, opiniões e informações que denoto serem objecto de interesse das comunidades escolares e particularmente dos docentes.
De acordo com o serviço de opinião da RAI-TV, num estudo realizado no início da década de 90, podemos dizer que um aluno da escola elementar ou média inferior ocupa semanalmente perto de 20 horas diante da televisão. Isto é, quase tanto como as que ocupa no ambiente escolar.
Segundo Mariolina Gamba, da Universidade de Milão, "podemos afirmar que a experiência audiovisual está presente na vida do adolescente do nosso tempo". Desde os primeiros meses de vida a linguagem do Cinema, e da Televisão, em particular, entram no campo da experiência da criança, mais cedo do que a escola.
Desde muito pequena, a criança interessa-se muito pelas imagens: ilustrações de livros, desenhos e particularmente pelas imagens em movimento. É de notar que este tão estreito relacionamento quotidiano com a imagem em movimento é crescente e recente, cabendo à escola adaptar-se a esta nova realidade.
Evelina Tarroni, uma das mais qualificadas estudiosas dos problemas educativos ligados ao cinema e à televisão, falou a propósito de "crianças televisivas", significando com esta expressão as crianças que desde a primeira infância vêem televisão, crescem num ambiente em que o televisor é parte integrante da vida quotidiana... E agora podemos dizer que os "nossos" adolescentes são, na sua maioria, "crianças televisivas". E na criança televisiva pode, com o tempo, criar-se uma desproporção entre a experiência imediata que têm da realidade (que assume ligando-se directamente às coisas e às pessoas, tocando-as e falando com elas, encontrando nelas uma resposta real, autêntica) e a experiência indirecta da mesma realidade (indirecta por meio do realizador e seus colaboradores que da realidade se servem para propôr o seu discurso especial).
A criança pode portanto situar-se neste desfasamento que concorre para a formação da sua personalidade, ao apreender o mundo que o rodeia através de mensagens codificadas/descodificadas pelo autor de televisão.
Quando, com seis anos, a criança se prepara para a frequência da escolaridade obrigatória, possui já uma bagagem "cultural" em grande parte adquirida pelos audiovisuais e mais precisamente pela televisão. Esta bagagem de informação e noções está destinada a desempenhar um papel de primeiro plano no horizonte cognitivo dessa criança que, com o desenvolvimento da sua experiência audiovisual, depressa se tornará o "adolescente audiovisual" e mais tarde um "jovem e adulto audiovisuais", indivíduos formados e muitas vezes condicionados por estes eficazes instrumentos.
O mundo das imagens - cinema e TV em particular - exerce na criança um fascínio mágico. O que encanta é ao mesmo tempo o movimento, luz e som que, harmoniosamente combinados, atraem sensivelmente a atenção. Com a idade, cresce no adolescente o interesse não só pela imagem em geral, mas também por aquilo que as imagens propõem a nível de conteúdo: cresce o interesse pela narrativa, pela problemática abordada nas diversas transmissões, nos vários filmes, nas bandas desenhadas e telenovelas... Particularmente alguns adolescentes parecem encontrar no programa televisivo ou no filme a possibilidade de minorar a enorme sede de conhecimento (que tantas vezes se manifesta na longa cadeia dos "porquês") e para o qual na maior parte dos casos não sabem procurar outras fontes.
É neste contexto que a escola terá um papel a desempenhar, uma palavra a dizer, fornecendo aos jovens os intrumentos necessários à descodificação das imagens e à compreensão de que a imagem em movimento, captada e reproduzida, é uma linguagem que também o jovem pode usar do ponto de vista do conhecimento e de forma de expressão.


  
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Edição:

N.º 110
Ano 11, Março 2002

Autoria:

Eduardo Jaime Torres Ribeiro
Escola Superior Artística do Porto
Eduardo Jaime Torres Ribeiro
Escola Superior Artística do Porto

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