Diversos órgãos da comunicação social noticiaram, na
oportunidade, a morte, a 20 de Dezembro de 2001, na França, e, uma semana depois,
o funeral, na sua aldeia natal de Joal-la-Portugaise, no Senegal, de Lépold
Sédar Senghor. Tinha 95 anos de idade, era casado com uma senhora francesa,
fora Presidente da República do seu país, que governara durante 20 anos, até
1980, tendo visitado Portugal em 1975, e era considerado um grande poeta de
língua francesa, fundador, ao lado do martinicano Aimé Césaire e do guianês
Léon Damas, também poetas, do movimento político-cultural da "Négritude".
Referências bastantes para uma notícia de circunstância, estão porém longe de
corresponder à importância de uma figura cimeira da cultura euro-africana, cuja
obra, como pensador, político e poeta, está obrigatoriamente presente em todos
os círculos culturais e universidades onde se estuda a história de África.
Com efeito, Senghor foi um dos líderes africanos e um representante da cultura
francófona cujo nome não se apagará da história dos movimentos políticos e culturais
africanos que, a partir dos anos trinta do século passado, desencadearam a corrente
imparável que iniciaria o processo das lutas pela independência dos territórios
colonizados: primeiro, a Argélia, em 1958, depois o Senegal, em 1960, de que
Senghor seria o Presidente-Fundador.
Todavia, Homem mais de pensamento que de acção, preferiu a tribuna (chegou a
ser deputado da Assembleia francesa) à guerrilha para impor o direito dos povos
colonizados à independência e a dignificação dos valores das civilizações africanas
como uma componente da Humanidade. E nesta dignificação, o reconhecimento de
que, sendo as culturas cumulativas e dialécticas, o Homem é, tem que ser, um
produto simbiótico que se exprime pela associação de individualidades heterogéneas
com benefícios recíprocos - de que o próprio Senghor, de raiz africana e de
cultura euro-africana, era um resultado.
Esta posição culturalista (a que o martinicano Frantz Fanon opunha antiteticamente
que a luta armada também é um acto de cultura), que é a marca de origem da "Négritude",
depressa distanciaria de Senghor os líderes africanos de formação marxista ou
marxiana (como Nkrumah, Touré ou Agostinho Neto), para os quais a "opinião"
sem "revolução" não era suficiente para combater o colonialismo e transformar
o Mundo.
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