Os manuais escolares das escolas israelitas de ensino religioso
ultra-ortodoxo - as "Haredi" - tendem a apresentar os árabes e os muçulmanos
de uma forma "preconceituosa" e por vezes "claramente negativa", de acordo com
um recente estudo do Centro para a Monitorização e Impacto da Paz (CMIP), uma
organização não governamental de origem judaica, com sede em Nova Iorque. Apesar
de ser conhecida pelos seus trabalhos de investigação em torno dos manuais escolares
palestinianos, o CMIP passou recentemente a debruçar-se pela imagem que os livros
escolares israelitas transmitem dos árabes e dos seus vizinhos palestinianos,
tendo chegado a conclusões surpreendentes.
O autor do relatório - intitulado "Os árabes e os palestinianos nos manuais
escolares israelitas", que deverá ser publicado em Maio próximo -, Amos Yuval,
investigou cerca de 360 manuais escolares e constatou existir uma distinção
clara entre a atitude do sector público (onde estudam 90% dos crianças e jovens
do país), dividido entre o ensino laico e nacional-religioso, e o sector privado,
essencialmente composto por escolas ultra-ortodoxas, ou Haredi.
Assim, a contrastar com os manuais das escolas públicas - onde as expressões
empregues são habitualmente neutras e não se aplica termos perjorativos ou estereotipados
-, nos manuais das escolas ultra-ortodoxas recorre-se a uma gama de palavras
que podem ser consideradas ofensivas, condescendentes e mesmo racistas, segundo
os autores do estudo, chegando-se a descrever os árabes e os muçulmanos como
seres "primitivos" e "desonestos". Segundo um dos livros analisados, por exemplo,
os árabes nunca poderiam viver sob os mandamentos da Torah (o livro sagrado
dos judeus) porque esta interdita o roubo.
Segundo Yohanan Manor, vice-presidente do CMIP, o relatório foi apresentado
a Yaar Peretz, chefe do partido ultra-ortodoxo Shass, com assento no Knesset
(parlamento israelita), que "não desmentiu as acusações" e se comprometeu a
divulgá-las junto do rabino Ovadia Youssef, líder espiritual daquele partido.
Ainda segundo este responsável, o ministério da educação israelita pouco pode
fazer já que este é um sector de ensino autónomo e a lei proíbe ao governo qualquer
tipo de ingerência na edição dos manuais, apesar de este beneficiar dos apoios
do estado. Aliás, o vice-ministro israelita da educação, Meshulam Nehari, citado
pelo jornal Yedot Aharonot, não parece muito convencido das críticas. "Os manuais
escolares utilizados nas escolas independentes, e nomeadamente nas Haredi, suportam-se
em fontes judaicas, e se há quem não reconheça a Torah ou o Todo-Poderoso, o
problema é deles".
E não é apenas nas Haredi que o fanatismo religioso demonstra o seu fervor.
Recentemente, o director de uma escola pública da corrente nacional-religiosa,
localizada na vila de Beit Shemesh, a oeste de Jerusalém, foi chamado à atenção
por ter deixado um professor queimar um exemplar hebreu do Novo Testamento em
frente dos alunos, que, segundo contaram, teria sido enviado por um missionário
cristão. Apesar das desculpas públicas apresentadas pela porta-voz da instituição,
Jordana Klein, o ministério da educação está a pensar em aplicar sansões ao
responsável pela escola, o rabino Yaar Bachar.
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