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A técnica e a estética
Dora Olivença,
professora no Curso Geral de Cerâmica, Escola Secundária Soares dos Reis

Disse-me que a arte da cerâmica é muitas vezes ensinada por pessoas que trabalham em fábricas. Isso gera alguma dicotomia entre a estética e a técnica da arte da cerâmica?

Na escola procuramos sencibilizar os alunos de que o que era interesante era levar os designers a saber a técnica para melhor ligar a estética à realidade. Como eu digo aos meus alunos, o problema é que a cerâmica não é plástico. Com a acção do fogo, a cerâmica distorce, cai, por vezes, funde. Por isso temos de ter conhecimentos técnicos. Às vezes as peças mais simples, com as linhas mais direitas, têm um pormenor técnico tão difícil que são consideradas peças artísticas. As pessoas é que não têm conhecimentos para avaliar isso. É por isso que vemos uma peça da Vista Alegre a custar umas centenas de contos. [Por outro lado] vemos que aquele painél do Júlio Resende (na Ribeira do Porto) está todo rachado. Tecnicamente aquilo não resulta, mas seria bom que a técnica estivesse alí à altura do artista, para a coisa ressaltar bem e ter uma certa longevidade.

Como se processa a passagem da aprendizagem para o mercado de trabalho dos cerâmicos ?

Isso é um bocado complicado porque as saídas profissionais são muito poucas. As fábricas e os ateliers de cerâmica procuram muito pouco os alunos. E o que acontece é que às vezes os alunos de cerâmica vão integrar-se noutras profissões [tiram cursos superiores de arquitectura e de escultura] e a grande maioria não segue a cerâmica [uma vez acabado o ensino secundário]. É natural que façam cerâmica como hobby, mas há dez anos que estou na escola [Soares dos Reis] e acho que só três pessoas ou quatro é que se mantêm profissionalmente como cerâmicos.

Em relação às outras artes, não acha que a arte da cerâmica é ainda vista essencialmente como artesanato?

É vista como um parente pobre da arte. As pessoas não levam a cerâmica muito a sério. Só levam a sério a pintura, a escultura. Para mim o facto da cerâmica ser vista como artesanato não a prejudica em nada. Talvez não se dê tanto valor à cerâmica por causa disso. Mas para além de ter a pintura, a cerâmica ainda tem os seus pormenores característicos. Se calhar é mais fácil ser pintor do que ser pintor ceramista.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 110
Ano 11, Março 2002

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Dora Olivença
Professora do Curso Geral de Cerâmica, Esc. Sec. de Ensino Artístico Especializado Soares dos Reis
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Dora Olivença
Professora do Curso Geral de Cerâmica, Esc. Sec. de Ensino Artístico Especializado Soares dos Reis

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