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Reflexos com luz

"Se aceito visitar um museu acompanhado? Claro que sim. Penso que nunca visitei um museu sem levar companhia. Nem um museu, nem uma galeria de arte, nem um teatro. Nunca calhou. Aceito o desafio. Pode ser uma exposição de fotografia? Óptimo, Proponho uma viagem ao Largo de S. Domingos, no Porto, para uma visita a uma exposição de trabalhos de alunos do 3º ano de Fotografia da ESAP. ESAP? Escola Superior Artística do Porto. Um dos meus filhos, o João, frequenta essa escola e é um dos alunos que participa na exposição. Que tal marcarmos para amanhã? ".

Cheguei atrasado. O Júlio Roldão, acompanhado de dois filhos (um dos quais o próprio aluno da ESAP), falava de teatro. Falava do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, sítio que frequentou mais do que a própria universidade. A propósito de uma das alunas com trabalhos na exposição "quadros-de-vida-polos-urbanos-realidades-envolventes". Uma exposição onde quem expõe não pretende atingir mas apemas mostrar como foi atingido.

"Esta tua colega é de Leiria, não é? Maria Kowalski. Conheço o pai dela. É encenador de teatro. André Kowalski. Trabalhou no TEUC. Se a memória não me falha, esteve ligado à encenação do D. Quixote no TEUC. Fez parte de um grupo de teatro polaco que se apresentou num festival em Coimbra com uma peça que dava à cenografia, ao desenho das luzes, aos sons e a tudo o que não era palavra para ser dita a mesma importância que o teatro clássico concedia ao texto do dramaturgo. Ele ficou em Portugal. Em Leiria."

O Pedro perguntava ao irmão se o auto-retrato que ele ali expunha tinha sido obtido com a Lomo, tal como as duas outras imagens. "Que sim", disse, confirmando que foi o único, do grupo, a usar essa tal de Lomo, uma máquina russa de lente luminosa e disparo à queima-roupa. Mas o resultado também tinha muito trabalho de laboratório, lembrou. Não bastará disparar.

"A Sara Verde é uma daquelas tuas amigas que fotografou o congresso dos professores, não é? Gosto destas figuras indefinidas, na cidade bem definida, que ela capta. É um olhar diferente. Como esse olhar que quase transforma os reflexos em realidade. Se não tivesses chamado a atenção para o trabalho da entrada não o teria lido completamente. Há muita novidade por aqui".

Muita novidade e não apenas no nó que finge segurar os cabos de aço que suspendem as fotografias, no caso variações sobre o tema Metrópole, sobre urbanidades, sobre como cada um daqueles fotógrafos (engenheiros da fotografia, como dizia, irónico, um deles) encara a cidade. "Quadros de vida, pólos urbanos, realidades envolventes, pólos envolventes, realidades de vida, quadros urbanos, realidades urbanas, quadros envolventes e pólos de vida" que estiveram patentes nas instalações do Largo de S. Domingos da Escola Superior Artística do Porto.

* Neste espaço acompanharemos, todos os meses, os mais variados convidados para "andarilhar" numa galeria, num teatro, numa exposição, num passeio de electrico...

  
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Edição:

N.º 109
Ano 10, Fevereiro 2002

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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