O futuro da Terra, ameaçado pelos excessos dos países ricos
e pela impotência dos mais pobres, depende em maior ou menor grau da capacidade
de autonomização da mulher, principalmente no que diz respeito ao planeamento
familiar, revela um estudo das Nações Unidas publicado no final de Novembro.
As mulheres representam mais da metade da mão-de-obra agrícola no mundo e ocupam-se
praticamente de todos os recursos vitais das famílias (água, combustível e alimentos),
destaca ainda o relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP),
intitulado "População e mudança do meio ambiente".
Mas apesar da sua importância no contexto produtivo, a mulher não tem nenhum
controle sobre esses recursos nos países pobres, onde as necessidades são maiores,
por causa de legislações e costumes locais que lhe nega o direito de decidir
sobre a reprodução ou mesmo sobre o direito de herdar a terra e de obter crédito
para desempenhar uma actividade por conta própria.
O aumento de 50% da população mundial estimado para o ano 2050 (9,3 mil milhões
de habitantes, de acordo com a projeção média do FNUAP, verificar-se-á sobretudo
nos países em desenvolvimento, que representarão, nessa altura, 85% do total
mundial. Os países desenvolvidos irão manter o nível actual de 1,2 mil milhões
de habitantes.
Entre 1985 e 1995, o crescimento demográfico de 64 dos 105 países em desenvolvimento
aumentou mais rapidamente do que sua produção de alimentos. A escassez desperta
em geral práticas agrícolas nefastas para o meio ambiente (desflorestamento,
cultivos e pecuária intensiva) o que, por sua vez, como um círculo vicioso,
deteriora os solos e reduz as colheitas. Governos e doadores estrangeiros teriam
todo o interesse em criar um "círculo virtuoso", com famílias menos numerosas
e melhor educadas para a boa gestão dos recursos, indica o FNUAP, citando o
exemplo do México e de alguns países do sudoeste asiático onde a taxa de natalidade
diminuiu durante a última geração.
O relatório enumera questões preocupantes sobre a sobrevivência do planeta,
como o desaparecimento provável de 60.000 espécies vegetais - um quarto do total
mundial - em benefício de novas variedades de alto rendimento que exigem adubos
e pesticidas especiais (que ameaçam perturbar o equilíbrio ecológico e dar origem
a uma série de novos problemas), o desaparecimento das reservas mundiais de
peixe, das quais 69% estão em extinção ou em vias de lenta reconstituição, ou
o aquecimento do planeta, que poderá provocar uma subida de 50 centímetros das
águas marinhas, acompanhada de tempestades, inundações e deslocamentos da população,
caso não sejam reduzidas as emissões de dióxido de carbono.
Neste contexto, o FNUAP preconiza programas de informação "integrados", que
conjuguem a sensibilização para o planeamento familiar e a educação a par com
uma gestão dos recursos que respeite o meio ambiente local. Durante a conferência
internacional sobre população e desenvolvimento, realizada em 1994 no Cairo,
os países comprometeram-se a financiar programas nestas áreas avaliados em 17
mil milhões de dólares anuais até o ano de 2000 e em 20 mil milhões a partir
daí, dando especial atenção ao crescimento demográfico. No entanto, "os países
em desenvolvimento que deveriam financiar os dois terços praticamente cumpriram
seu compromisso, enquanto que os países industrializados apenas cumpriram a
metade", destaca Fama Hane Ba, directora para o continente africano do FNUAP.
(AFP
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