Extinguem-se as últimas delegações escolares. Aprende-se a
lidar, à pressa, com a necessidade de protagonismo do vereador da Educação ou
a aceitar-se, contrariado, a recusa do CAE em deferir o horário de Inverno.
Os Cursos de Complemento de Formação transformaram-
-se numa espécie de Via Sacra a que a progressão na carreira obriga. Olha-se,
entretanto, para o documento onde se anunciam e expõem as competências essenciais
e pergunta-se o que fazer, então, com o programa que, pelos vistos, continua
em vigor. Embora ninguém duvide que as provas de avaliação aferida não têm a
função selectiva de um exame, não deixa de ser estranho que o Ministério da
Educação continue a organizá-las, ano após ano, e os professores as entendam
como um constrangimento curricular pertinente que justifica, da sua parte, a
realização de períodos de preparação e de treino cuja finalidade tem mais a
ver com os resultados a obter do que com a aprendizagem e a educação das crianças.
Escarafunchando-se, para lá de toda a retórica entusiamante do 115 e dos ALFA,
continua-se a defrontar o problema de uma rede escolar que se encontra longe
de poder vir a ser objecto de uma solução estandartizada e tecnocrática. E quem
fala disto ? Quantos falam disto e porque é que estes o fazem ?
Mas se importa afirmar que os problemas com que se defrontam todos os que têm
alguma coisa a ver com o 1º Ciclo do Ensino Básico não se esgotam nesta lista,
importa também reconhecer que existe, igualmente, um património pedagógico precioso
e experiências de trabalho gratificantes e educacionalmente significativas que
não poderemos desvalorizar. O 1º Ciclo é uma realidade bastante heterogénea
que se defronta, hoje, com um desafio onde se corre o risco de negligenciar
o essencial em detrimento do acessório, de se investir tempo e energias a gerir
o burocrático ou o supérfluo em nome do pedagógico e, finalmente, a alimentar-se
uma mudança que por não ser compreendida como um percurso a fazer corre o risco
de se transformar em mais uma (des)ilusão.
Quanto tempo têm vindo a perder os professores do 1º Ciclo a descobrir como
implementar a Área de Estudo Acompanhado , esquecendo-se que o acompanhamento
do estudo dos seus alunos é uma tarefa diária cuja qualidade se afirma através
do modo como diferenciam as propostas de trabalho, no modo como organizam o
tipo de apoio que lhes disponibilizam ou no modo como promovem a avaliação dessas
propostas ?
Quanto mal-estar sente uma professora quando não compreende o que é um projecto
curricular de turma, embora planifique diariamente a sua intervenção educativa
em função da identificação dos objectivos do programa, da caracterização das
prioridades educativas dos seus alunos e de algumas linhas de orientação discutidas
no princípio do ano lectivo no âmbito do Conselho de Docentes ?
Quanto esforço sem sentido protagonizam os docentes para responder às prescrições
dos agentes da administração local, cujo investimento deveria centrar-se mais
no apoio à definição e auto-avaliação das etapas de um percurso que só os professores
e os seus alunos poderão delimitar, do que a exercer o papel de um juiz todo
poderoso que apenas incomoda de uma forma gratuita e inconsequente ?
No 1º Ciclo do Ensino Básico urge tanto transformar as práticas pedagógicas
de muitos dos seus professores como importa repensar e mudar radicalmente a
intervenção das estruturas de supervisão e de inspecção pedagógica, enquanto
manifestação do poder de uma Administração que, centralmente ou localmente,
parece nem ter compreendido que as mudanças desejadas não poderão acontecer,
apenas e exclusivamente, em função de constrangimentos externos, nem saber,
tão pouco, quais os tipos de constrangimentos que deverão ser exercidos. Em
suma, uma Administração cujo papel oscila entre a acção desconfiada de um pai
tirano e a obsessão messiânica de uns quantos voluntaristas iluminados.
Rui Trindade e Ariana Cosme / UP
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