Todos os professores deveriam ter acesso ao Relatório do PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano). Este ano disponível em papel,
em português, Trinova Editora e em www.un.org/Publications
na Internet.
Começando pela p. 141: Portugal, em 162 Países, aparece no 28º lugar. Isso corresponde
a um "Desenvolvimento Humano Elevado". Medem-se aqui, entre outros: a esperança
de vida à nascença (75,5 anos para Portugal); taxa de alfabetização de adultos:
91,9%; taxa de escolarização bruta combinada do primário, secundário e superior
(96%); PIB per capita (16064 USD - dólares americanos).
Somos o pior dos Países da União Europeia; A Grécia está em 23º lugar. Na CPLP
o Brasil surge em 69º lugar e Cabo Verde em 91º. Rendimento? 4490 (USD). Os
técnicos da ONU não andam a brincar: trata-se de USD "PPC" - paridade de poder
de compra; imagine o leitor que 1 USD comprava o mesmo em Portugal e Cabo Verde:
conclusão, rendimento cabo-verdiano a 1/4 do nosso.
Angola tem uma esperança de vida de 45 anos; a Guiné-Bissau e Moçambique, por
esta ordem, estão em 156º e 157º lugares, quase no fim da lista. Moçambique
tem a segunda pior esperança de vida do planeta: 39,8 anos, só melhor que a
da Serra Leoa (38,3), último dos países. A China, vista por muitos como farol
para o futuro aparece em 87º lugar na lista.
A redução da realidade a números é falível, mas é o caminho seguido pelos estudos
científicos. Por exemplo, a nossa taxa de analfabetismo é praticamente igual
à do México, situado em 51º lugar. Reflictamos
nisto...
Na p. 42 diz-se que a electricidade não chega a 2 mil milhões de pessoas (1/3
da Humanidade); o telefone (p. 42) tem mais de cem anos. Há 1 ligação/2 pessoas
nos países ricos da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico) e 1/200 nos menos desenvolvidos. Os telefones móveis
têm contribuído para aumentar as assimetrias pois o seu número cresce muito
mais depressa nos países mais ricos.
Na p. 8 lê-se que quase 1000 milhões de pessoas não têm acesso a água tratada;
2,4 mil milhões não têm saneamento básico; 34 milhões têm SIDA; 2,2 milhões
morrem por ano devido à poluição do ar (número de 1996); 1,2 mil milhões vivem
com menos de 1 USD/dia "PPC" e 2,8 mil milhões com menos de 2 USD/dia.
Nos países da OCDE 15% dos adultos são funcionalmente analfabetos; há 8 milhões
de subalimentados. Na p. 107 diz-se que o Brasil começou a produzir antiretrovirais
genéricos em 1993. Desde 1996 as mortes (de SIDA) caíram para metade. Na p.
90 diz-se que o Ensino Superior é caro.
Sabemo-lo nós e os nossos colegas brasileiros, sem qualquer aumento salarial
há anos. A acção humana tem sido, muitas vezes, impensada. "Seis coelhos europeus
introduzidos na Austrália, em 1850, multiplicaram-se até 100 milhões. (...)
Actualmente, os coelhos custam às indústrias agrícolas australianas 370 milhões
de dólares/ano" (p. 67) Haverá mágicos que nos salvem de todos estes "coelhos"?
Quem desenvolverá vacinas contra a malária, HIV e tuberculose (...); variedades
das principais culturas adaptáveis à seca e resistentes aos vírus (...); computadores
de baixo custo (...) como se propõe na p. 95 deste Relatório?
Esperemos, mais uma vez com esperança!
Carlos Alberto Mota e Maria Gabriel Cruz
UTAD
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