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Não podemos ignorar...
(MEMÓRIAS RECENTES DAS JORNADAS SINDICAIS)


Uma das sessões anunciadas no programa das últimas Jornadas Sindicais que mais me aguçou o apetite, até porque andava prometida há muito tempo e, sobretudo, por contemplar porventura a pedra de toque das civilizações actuais, foi aquela em que um representante do sindicato dos jornalistas ia conversar com os professores sobre comunicação social, no caso, mais precisamente em nome do enorme poder da televisão na sociedade.

Não foram propriamente feitas revelações completamente inesperadas mas considero muito importante o facto de se ter iniciado um diálogo entre forças cuja correlação é relevante: os media e a educação.

Quem comanda essas forças? Quem "controla" as armas? Quem é perdedor, quem é ganhador?

Falou-se muito do poder das audiências (nós todos). Mas então cada um de nós, individualmente e nos colectivos a que pertence, é quem gera a grelha de programação e o alinhamento dos noticiários? Nós, professores e educadores, constituiríamos, juntamente com outras pessoas, naturalmente, uma amostra a tocar os 100 % que daria um não rotundo à televisão que temos. E os outros, os que realmente dão rosto aos números que as sondagens mostram, não passaram pela escola, não partilharam connosco espaço de formação, quer dizer, espaço de desenvolvimento de intervenção crítica? Não são escolha representativa. Totalmente de acordo. Mas é preciso estarmos nós e o poder político atentos a um outro tema que também teve espaço próprio nas referidas jornadas: a Aprendizagem ao longo da vida como instrumento para uma Educação ao longo da vida. Estamos lá todos no cartaz como actores principais: a educação e os media.

Dizia o jornalista em Mirandela, no dia 5 de Setembro, que considerava, e muito bem, que a análise de registos visuais, escritos ou falados, feita em sala de aula seria uma metodologia eficaz para se ir construindo o consumidor da informação. Para quem nem não tem o hábito de exercitar a técnica, a dica foi muito bem deixada e, por certo, estimulou quem já tem o vício no corpo.

No suplemento de um jornal de 16 do mesmo Setembro cuja capa a preto e branco mostra o rosto de Osama Bin Laden, é exibida uma banda desenhada, com introdução justificativa dos autores, com epígrafe "Um docente acidental" numa linha de percurso dos sete pecados capitais, sendo o visado, desta feita, o da Ira. O pecado mortal em causa tinha servido de inspiração para uma série de desenhos e falas apelidada de "A matemática faz cair o cabelo".

Penso que evoluí q.b. desde a minha infância e adolescência e cheguei a maior de idade conferindo ao papel da B.D. atributos adequados ao público a que se dirige, que é como quem diz, os leitores de todas as idades, público este que também foi adquirindo competências que não eram deliberadamente treinadas.

Parece-me que o sentido de humor que valorizo bastante não é suficiente para apagar alguma perplexidade que as vinhetas me provocaram. Por três ordens de razões: por ser professora, por ser professora de matemática e por querer ser aliada de quem produz material de entretenimento/formação.

Gosto muito de rir, mas não gosto menos de pensar.

Iracema Santos Clara
Escola EB 2,3 Dr. Pires de Lima

  
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Edição:

N.º 106
Ano 10, Outubro 2001

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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