Passou a ser uma moda dizer-se que vivemos num mundo em mudança
no qual as próprias mudanças mudam. Enfim, não é de todo verdade. Continuam
a permanecer algumas "verdades"... Por exemplo, alguns comem o frango todo e
outros vão para a estatística como "comedores de meio frango per capita".
Também continua a ser teimosamente verdade que antes rico que pobre, antes sueco
que Indonésio. (Indicador estatístico, evidentemente).
Mas a globalização avança e com ela avança também uma "mundialização" de populações.
Quem poderia pensar, há poucos anos (digamos 20) que a Grã-Bretanha do ano 2001
teria 25% da sua população nascida fora das suas fronteiras? Quem poderia antecipar
que (segundo números oficiais) mais de 25% dos rapazes britânicos com 9 ou 10
anos de idade consomem hoje bebidas alcoólicas em casa? Quem diria que nas escolas
do Reino Unido se falariam mais de 30 línguas? Quem acharia possível que, em
2001, um dos principais apelidos milaneses fosse o tipicamente chinês "Hu"?
Quem imaginaria então (falamos de "há 20 anos") um excelente "negócio" fosse
o tráfico de seres humanos, novos escravos. Isto para além dos outros tráficos,
mais comuns. Perante este estado de coisas, a Europa Ocidental parece não saber
o que fazer. Diz-se que nos países do Leste Europeu se agradece com amargura
ao Ocidente, a "nossa Coca-Cola". Enquanto se globalizar apenas a exploração
dos outros, a pobreza, a prostituição, ignorando que estamos a desprezar povos
com cultura antiga e rica, caminhamos na construção daquilo que há tanto tempo
(?) Marcuse chamou a "unidimensionalização", talvez numa versão que ele não
imaginou nunca.
Vamo-nos apercebendo de que não há "bondades" neste mundo. A Internet, apresentada
como espaço de liberdade de acesso barato, criadora de uma "nova economia" já
demonstrou que não o é. Porter, num relatório famoso, falou dos sectores tradicionais
em termos de economia. Quem não tem indústria, pescas ou agricultura não "comerá
bytes", como um dia disse Indira Gandhi.
Os professores devem preparar-se para as transformações mais estranhas que lhes
venham ao pensamento. O futuro estará nos "reallity shows" ou já viveremos num
desses shows? A desorientação global da juventude é consequência desta situação,
à qual, naturalmente, não escapam os docentes. Resta-nos a poesia.
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu ergo-me e converso
com os séculos a história do universo...
Vladimir Maiakovski escreveu isto. É uma esperança: talvez
não tenhamos chegado ao fim da história universal.
Carlos Alberto Mota,
Maria Gabriel Cruz
UTAD, Vila Real.
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