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Já Cá Ando Há Tempo de Mais Para Me Deixar Enganar

ROTEIRO DE A. Moura professor- sindicalista

O roteiro do HB aguçou-me a memória e o espírito. É que também eu vivi aqueles tempos de vacas gordas nas carteiras, de vacas muito gordas e nada loucas nos sonhos colectivos transportados no 25 de Abril.

Vivemos todos, muitos, então, onde estais Acácio-Zita-Magalhães-Judas!?, um sonho lindo de mudanças profundas no sistema político e no modo de estar a ouvir o Zeca, sempre que as grandes massas de gentes ressuscitadas se movimentavam nos campos, nas fábricas e nas escolas, nas aldeias, nas cidades e nas ruas.

Construímos novos pilares sociais e geramos células associativas e culturais inovadoras, plenas do viço da participação e da solidariedade, cintilantes de alegria e de paixão por um futuro melhor.

Paixão-paixão que na educação nos levou à gestão democrática e à labuta apaixonada por uma Nova Escola.

Em 75 já era professor numa escola que o Marcelismo tinha concedido oficiosamente a um pavão fascista (tive depois de a identificar oficialmente, após o 25 de Abril, perante os serviços centrais do Ministério que não sabiam da sua criação à maneira corporativa) Era ele "Almeida", então deputado na Assembleia Nacional e indefectível da "pátria una e indivisível". Tal pavão, pasme-se!, veio depois a ser dirigente máximo da FLA (visando o separatismo dos Açores ou a pressão sobre o 25 de Abril a mando de Carlucci), num estertor grotesco e sem vergonha dos próceres do regime que tinha ajudado a sustentar.

Deixou-nos um problema que passou pelo afrontamento de outros caciques para a instalação da cantina da escola na Casa do Povo.

Embora noutro sentido, recordo-me de Vassilis Vassilikos para questionar os inglórios Z de Montand e de Zenha, por muito que os possa apreciar em alguns aspectos da sua intervenção civica.

O império da CIA, do capital e dos media ao seu serviço tem muita força em todo o mundo. Uma força enorme naquele continente em que pontificam Fidel e as naturais réplicas dos Zapata, dos Marti, dos Sandino, dos Tupac Amaru, do Luther King e do Guevara.

"Em casa de ferreiro, espeto de pau" é ditado só para alguns idealistas Basta lembrarmo-nos do suicídio de Allende e do seu fuzilamentos de Pinochet A ferro e fogo é o princípio de todos os fascistas, contra o romantismo humanista e revolucionário

Que bela dimensão de Humanidade nos dá Heminghway n' "O Velho e o Mar", que exemplo de solidariedade activa no "dobrar dos sinos" pela construção dos "Subterraneos da Liberdade"!

Quase a despropósito lembro-me também do Sousa Tavares pai, para dizer ao filho, grande figurão (entenda- se: figura de grande impacto mediático) do s tempos que correm na televisão e na imprensa, que, apesar de apreciável em muitas reflexões, caminha a passos largos na via degenerativa do snobismo bacoco da "nova gente" e do frete ideológico SIC. LlosasTavares, são uma espécie de clonagem sem contrição nem redenção possível no futuro.

Até o Soljnetsine, tantos anos atolado nos Goulags da democracia e da liberdade dos senhores do mundo, farsou redimir-se, sem sentido certo, face ao descalabro Gorbachev O mal está em mudar-se de campo! Mais propriamente, de barricada. De facto fundada no desgraçado e desmedido poder dos aparelhos sobre os povos e sobre o homem, lembrando "O Elefante7', de Mrozek (olá Zé Paulo), a queda do muro de Berlim foi também, principalmente, uma obra da sistemática acção de outros imperialismos, de que ambos foram cúmplices irredimíveis no processo secular de domínio da terra inteira pelo poder do capital.

Sem ser maniqueista, acho que só há dois campos, duas barricadas, com trincheiras outro, "escultor de artes gráficas", associa a criação artística à humildade perante o real e os "verdadeiros artistas" à gastronomia de todas as coisas boas da vida.

Ambos gozaram as saunas fortes e as suculentas sopas, o champanhe da Crimeia e os peixes secos, a vodkiana hospitalidade russa e o ballet de Moscovo, em compensação do descalabro social e político Ieltsine . No convívio de regresso fartamo-nos de dar vivas a Tolstoi, Tchekov e Dostoievsky, a Gorky, Mayakovsky, Eisenstein e Lenine!

Esta referência aos amigos também serve para falar de Alberoni. Não sobre "A Amizade", coisa esquisita nos tempos que correm, mas sobre "O Enamoramento e Amor", que nos demonstra clarividente o que de essencial conhecemos na vida.

Serve para falar da bola que nos enrola a mente .. como se alguém fosse capaz de matar todos os pombos do Porto por falarem corrup... corrup.. corrup... numa sociedade toda ela minada por alienações corruptoras, ética e culturalmente inquinada nas próprias fontes de formação

Mas serve, principalmente, para sentir que nao estamos sós nos roteiros bons da vida. Sem facciosismos, por mero gosto pessoal, sempre podemos encontrar, em simples mas sensíveis registos na paleta: Van Gogh e Goya, Vieira da Silva e Abel Manta; na pauta: Verdi, Paredes e Lopes Graça, Zé Mário e The Doors; no cinema: Cine-Paraíso (G T.), Bertollucci e Fellini, Fernando Lopes, Oliveira e Fonseca e Costa; na poesia: Neruda e Herberto, no teatro: Brecht e Becket, Gil Vicente e Brandão; e tantos, tantos outros na literatura e na música.

E é por isto que nos encontramos, também, de vez em quando, com a feijoada à moda do

Porto ou à brasileira, ou à transmontana, ou com a culinária internacional criada e apurada por todos os povos, regada com bons tintos (ou brancos) das regiões demarcadas de Portugal. Por exemplo na China (Macau) comi um leitão que nada fica a dever ao da Bairrada.

Digam lá, então, se não vale a pena insistir, com coerência, num roteiro político de esquerda, para que todos possam fruir das coisas boas da vida!?

 


  
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Autoria:

A. Moura
Professor, Viana do Castelo
A. Moura
Professor, Viana do Castelo

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