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Alguns parágrafos sobre o mês de Janeiro de 1997

Em Janeiro de 1997 lançou Fernando Tordo e o Diário de Notícias um calendário ilustrado e musicado. Foi numa quarta-feira, vinte e quatro (24) horas depois do tal dia “D”(vinte e oito do um), contra a droga. O DN ofereceu um CD de treze (13) canções, cinquenta e seis minutos (56) e quatro (4) segundos, por setecentos (700) escudos. A oferta incluia o próprio jornal do dia. O calendário é, naturalmente, play.

Dias antes, o mesmo Diário de Notícias garantia, citando um balanço qualquer, que o rendimento mínimo estava a fazer diminuir o absentismo escolar. À data (a de 25 de Janeiro de 1997), o rendimento mínimo contemplava 11 596 pessoas ou, se quiserem, 11 596 pobres.

Janeiro começou invernoso a valer, com neve a sério no interior Norte e Centro e com ventos ciclónicos e chuvadas violentas no arquipélago dos Açores, cujo território foi declarado em estado de calamidade, o que aconteceu pela primeira vez em Portugal. Os prejuízos nas ilhas somam mais de dez milhões de contos. “Vivendo em cima de vulcões, perdidos no meio do mar, com baleias, brumas e tempestades à volta, aos açorianos só lhes resta rezar para que nada lhes aconteça...”

Na segunda semana // do mês primeiro (não é poema para musicar, mas parece), Marçal Grilo, ministro da Educação, foi elogiado por Manuela Teixeira, a despedir-se da presidência do Sindicato dos Professores da Zona Norte, para se dedicar mais à FNE e à UGT. O elogio mereceu manchete no Jornal de Notícias. Menos impacto mediático teve o plenário regional de professores que o Sindicato de Professores do Norte (SPN/ FENPROF) promoveu para reafirmar duras críticas ao ministro e ao Governo, relativamente à revisão do Estatuto da Carreira Docente.

No dia 11 de Janeiro, à noite e com transmissão directa na RTP 1, o Benfica recebeu, no Estádio da Luz, o Futebol Clube do Porto. Resultado final: 1 para o Benfica (golo de João Pinto), 2 para o Futebol Clube do Porto (golos de Jardel e Jorge Costa). Com este resultado, o FCP isola-se, destacadamente, no primeiro lugar do Campeonato de Futebol da 1ª Divisão e torna-se alvo de múltiplas atenções. O futebol marca, neste mês, as agendas políticas e sociais. Jornais, rádios e televisões denunciam eventuais corrupções no meio futebolístico. Os principais clubes chegam a acordo para regularizar as dívidas ao fisco.

O governo do Canadá, à semelhança do que o governo dos Estados Unidos da América faz há muito, quer repatriar para Portugal um jovem canadiano de origem portuguesa que se encontra a cumprir pena maior, é toxicodependente, e doente do SIDA, em estado muito avançado. Este "repatriamento forçado”, no caso (como em muitos outros) de um cidadão que não fala português nem tem familiares em Portugal, foi suspenso por pressão da opinião pública canadiana. Os repatriados são produto da própria sociedade que, ao abrigo de uma qualquer legislação para emigrantes, os quer repatriar. Mas há países ricos que não se importam de exportar criminalidade e doença

Em Janeiro de 1997, uma emigrante portuguesa de sucesso, médica formada na Àfrica do Sul, onde reside, surgiu a anunciar, de forma pouco ortodoxa, a descoberta de um remédio milagroso para o SIDA. A comunidade científica internacional levantou sérias dúvidas ao sucesso da descoberta e criticou o sensacionalismo que envolveu o noticiário sobre o tema, tanto mais prejudicial quanto maiores e potencialmente infundadas esperanças possa gerar.

Cardoso e Cunha demitiu-se do cargo de comissário da Expo 98. Não aguentou as críticas nem terá admitido, como legítimo, que alguém se interrogasse, de forma negativa, sobre os possíveis buracos financeiros da iniciativa. O anterior comissário chegou mesmo a afirmar, em público, que em vez de críticas ele próprio mereceria uma estátua. Foi substituido por Torres Campos.

Em Francelos, às portas do Porto, a população não cigana vira-se contra uma comunidade cigana ali residente, acusando-a de instigar o consumo e o tráfico de droga. Os espectro das milícias populares aparece de novo a toldar uma desejável convivência que passa pela administração equilibrada de justiça. O presidente Jorge Sampaio referiu- se a este e outros problemas no discurso que proferiu na abertura do ano judicial.

A prometida diminuição do horário de trabalho para as 40 horas semanais gerou, em Janeiro, situações que tocam as raias do escândalo. Numa interpretação no mínimo abusiva, empresas há onde a aplicação dos novos horários provocou o aumento da carga horária. Os patrões querem, agora, 40 horas líquidas, isto é, sem qualquer pausa, numa atitude de desprezo por conquistas dos trabalhadores com dezenas de anos de vigência. A CGTP tem liderado a contestação a estes atropelos

Segundo “O Seringador”, da Lello Editores, sucede que este mês de Janeiro entra com o ano e no caso, porque isso aconteceu a uma quarta-feira, tem a norteá-lo o planeta Mercúrio, deus da Eloquência, do Comércio e dos Ladrões. Dito isto convém acrescentar que o azouge, ainda segundo a mesma fonte, exerce benéfico domínio sobre os poetas, os pintores, os matemáticos e os ourives. E por força destes astros, o Inverno não será muito frio, mas a Primavera será húmida, o Estío quente e o Outono temperado. E haverá cereais em barda, vinho que baste, azeite que chegue, mel à fartura e muita sardinha. Também algumas prenhezes redundarão em abortos, segundo O Seringador.

JR


  
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Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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