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César Rocha à conversa com gente de 'a Página'

a formação contínua dos professores

é, simultaneamente, um direito e um dever

a formação contínua dos professores

deve ser um reencontro de pares, sem receitas

o entrevistado

César Rocha, 40 anos, licenciado em Filosofia e Mestre em Filosofia da Educação. Professor Efectivo do Quadro de Nomeação Definitiva na Escola Secundária de Águas Santas. Representa os Centros de Formação das Associações de Escolas da área da DREN no Conselho de Formação Contínua.

o local

da entervista

 

A entrevista (conversa), marcada em cima da hora, numa manhã de sábado, teve lugar na própria Escola Secundária de Águas Santas, enquanto decorria uma acção de formação para professores e uma acção de formação para alunos, esta sob a forma da actividade desportiva de quem ali pratica 'tiro com arco'.

 

a primeira

ideia

O alvo é, no entanto, o mesmo: a formação integral do indivíduo. César Rocha reconhece que a formação contínua está longe de ser reconhecida, por toda a gente, simultaneamente como um direito e como um dever. Daí a compreensível existência de mecanismos susceptíveis de aliciar os interessados para a frequência das acções...

 

 

os créditos

desejados

 

O sistema, ainda vigente, de ligação directa da formação à progressão na carreira poderia ser substituido por um outro qualquer estratagema. Por exemplo, a necessidade (obrigatoriedade) dos professores elaborarem, regularmente (por eventuais períodos de 4 anos) planos pessoais (ou colectivos) de formação. Com mínimos exigíveis para cada período.

 

um encontro

entre pares

 

A formação contínua de professores é, ou é suposto que seja, muito mais um encontro entre pares do que a reprodução das relações professor/aluno que marcaram a formação inicial dos professores. A actualização de conhecimentos, mesmo quando considerada científica, jamais deverá ser assumida como uma actualização de 'software', como quando se substitui a versão de um programa de computador em uso por uma versão mais moderna.

 

 

primeiro

parêntesis

 

A eficácia da comunicação passa, sempre, por uma espécie de encontro entre pares. O primeiro acto político, em teatro, é saber quem está na sala. No jornalismo, saber quem vai ler o jornal. E na formação contínua dos professores? Foi uma pergunta que ficou, sem qualquer mágoa ou pecado, por fazer. Nenhuma entrevista é completa. E os jornais? Há dias, ouvi um leitor, atento e curioso, perguntar o que são 'frescos', como aqueles que foram danificados numa Igreja italiana aquando de um recente sismo.

 

de regresso

à entrevista

 

Entrevista que não é nem 'ping-pong' (pergunta / resposta), nem texto corrido, nem nada habitual. Na hora desta conversa, Cesar Rocha participava numa acção de formação sobre comunicação, jornais escolares, coisas assim... Daí a ousadia de tentar, com ele, ensaiar caminhos diferentes e autónomos para dar maior visibilidade a este pensado trabalho.

afinal foi

bem melhor

 

Nesta sociedade, onde a explosão do audiovisual ocorreu antes de estar consolidada uma cultura bibliográfica, é legítimo que a formação contínua e até a simples necessidade de leitura façam assédio. Nem que seja acenando com créditos. O débito é tal... César Rocha não disse isto (sic) mas disse que são muitas e variadas as vias de acesso à formação contínua, sendo, no entanto, agradável verificar que no final de muitas acções há cada vez mais gente a dizer 'afinal isto foi melhor do que eu pensava'.

 

uma sentida

necessidade

 

A procura das acções de formação contínua surpreendeu tudo e todos, nomeadamente em 1992/1993. A procura foi de tal ordem e tão inesperadamente forte que o sistema praticamente parou em 1994. Tentou-se 'disciplinar', entre aspas, a formação, não sem algumas tentações de a servir 'a la carte', como quem oferece uma iguaria difícil de confeccionar. De cima para baixo, muitas vezes com a chancela universitária...

 

mas centrada

na escola

 

A formação centrada na escola, nascida mais das necessidades colectivas da escola ou do território educativo do que das necessidades individuais de cada professor, é um dos caminhos a percorrer Com a certeza de que a teoria é indispensável, embora a prática continue a ser uma dos mais fiáveis critérios da verdade. Verdade? É bom que estas coisas sejam discutidas colectivamente e subam a palcos mediatizados como são os jornais.

 

nem sempre

os mesmos

 

Há uma geração, que alguns chamam a dos 'amigos de Alex', que se encontra sempre e sempre nos mesmos sítios cívicos. São eles que fazem o público dos festivais de teatro, são eles quem frequenta feiras do livro e livrarias, são eles quem compra alguma arte (serigrafia, entenda-se que o dinheiro não dará para mais), são eles quem está na formação contínua de alma e coração apaixonados, são eles quem trocou a militância dos anos 60/70 por uma militância profissional.

 

 

viver sempre

também cansa

 

Mas viver sempre assim, sem apoios, com a carolice que resulta da verdadeira paixão, não de uma paixão declarada em nome de uma engenharia eleitoral qualquer, também cansa. Daí que as gentes que fazem a diferença reclamem estabilidade, nomeadamente nesta área da formação contínua, e digam que é preciso saber se a formação é. ou não para continuar, ou se apenas foi tolerada enquanto se sabia que era apoiada pelas verbas do Fundo Social Europeu.

 

uma oficina

e um círculo

de estudos

Não há receitas, nem politicamente sensatas, nem politicamente correctas, para nada e muito menos para a formação contínua. Uns podem fazê-la num atelier, outros numa mesa redonda de um círculo de estudos... Outros ainda, quem sabe, retornados alunos de um qualquer mestre escola A memória da fisga, no bolso das calças, mesmo quando cantada pelos do Rio Grande, não é necessariamente um crédito de formação mas pode ajudar.

 

 

segundo

e último

parêntesis

 

Bem dizia César Rocha que a conversa ia dar bom trabalho ao escriba, dito jornalista. Há conversas que são como as cerejas mas estas raramente são as de uma entrevista formal., mesmo quando assumidamente inacabada. A certa altura, quando entrevistador e entrevistado se reconhecem na mesma barca vicentina, o pobre jornalista aproveita a deixa para, ele próprio, se queixar do jornalismo que se faz, numa espécie de autoflagelação.

 

está na hora

de fazer

ponto final

e parágrafo

 

Um, que há muito não pratica isto de falar com os outros, olha o relógio (a gente olha sempre o relógio) e começa a pensar na melhor forma de por ponto final nesta conversa confiada (não fiada) e confiante. Então pergunta, com uma entoação de grande reporter: 'Então, doutor, gosta de dar aulas?'. Que pergunta, senhores. E logo a César Rocha. Como director de um centro de formação estaria, se o desejasse, dispensado da componente lectiva. Só que ele não o deseja, bem pelo contrário, não abdica desse privilégio que é ser professor. Estar assim é manter acesa a chama da dignidade profissional que alguns pretendem fazer diminuir.

 

Texto de João Rita

fotos de João Paulo Coutinho


  
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Autoria:

César Rocha

César Rocha

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