“Em breve estarei morto, finalmente, apesar de tudo”. João Lagarto acaba de entrar em palco e dá início a um monólogo de mais de uma hora, contando ao público a história da sua vida. [foto de Margarida Dias, TNDMII]
Enquanto aguarda a última hora, o personagem recorda alguns dos momentos mais significativos do seu passado, pelo menos dos que se lembra e como os recorda: as relações tensas com o pai, que morreu cedo; a ligação à mãe, com quem nunca se conseguiu entender; a infância vivida com grande agitação interior; a maturidade sem amor (“nunca amei ninguém, acho eu, se não lembrava-me”), a velhice na solidão... Mas o homem também evoca assuntos comezinhos, à medida que memórias mais insignificantes lhe ocorrem, aparentemente aleatórias, como o jogo das pedras de chupar...
Criado a partir de quatro textos de Samuel Beckett, Começar a Acabar tem encenação e interpretação do próprio João Lagarto, cenografia e desenho de luz de José Carlos Coelho e música de Jorge Palma. Em cena no Palácio do Bolhão, até 24 de maio, de 4ª feira a sábado às 21h30 e ao domingo às 16h.

Masterclass. Entretanto, no dia 22 de maio, das 15h às 18 horas, João Lagarto realizará um workshop sobre Começar a Acabar. “O monólogo é o resultado de uma montagem que Samuel Beckett fez a partir de vários dos seus livros. Observar os critérios e a metodologia que utilizou nessa montagem é o que me proponho”, explica o ator. “Com recurso a materiais audiovisuais traçarei a história da construção do monólogo, que foi tendo várias versões, sucessivamente corrigidas entre 1962 e 1970, e constitui uma oportunidade única de observar os processos de trabalho de Beckett.”
A reforçar o lado prático do workshop, João Lagarto vai refletir sobre as questões com que se tem debatido durante a  já longa carreira de Começar a Acabar – estreou em 2006, valendo a Lagarto o Globo de Ouro para Melhor Ator e o Prémio Melhor Ator da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.