Página  >  Opinião  >  Redes sociais: que desafios para a educação?

Redes sociais: que desafios para a educação?

Existe um conjunto de desafios por mapear em termos de educação para o uso da internet: condições de segurança; conhecimento de quem está do outro lado; privacidade e gestão da imagem; ocultação de dados pessoais; expectativas face às amizades; comportamentos sexuais frente a computadores – são algumas das esferas de uma tarefa complexa, que se cruzará com inevitáveis diferenças de gerações e de valores.

As redes sociais são um dos fenómenos emergentes em termos de internet. Diversas plataformas estiveram em voga nos últimos anos. A partir dessa experiência surgiram outras que combinam diversos instrumentos e tornam-se mais atractivas para um número cada vez maior de pessoas. Assim, muitas das plataformas actuais combinam serviços de troca de mensagens e de troca instantânea de mensagens – os vulgares mails e chats, respectivamente. A isso, soma-se um outro aspecto que tem que ver com a interacção: um espaço público, em que se pode aceder às mensagens partilhadas pela nossa rede de amigos; e um outro espaço, mais recatado, que se relaciona com as nossas próprias mensagens disponibilizadas na rede, com os respectivos comentários escritos pelos nossos “amigos”. O sucesso dessas redes deve-se, também, a uma improvável combinatória, pois algumas delas disponibilizam jogos on-line.
Empresas com posições dominantes no mundo virtual já se aperceberam que as redes sociais funcionam, em muitos aspectos, como sucessores dos mails pessoais. Especialmente no que diz respeito aos mais novos, pois um mail tradicional é menos interactivo do que uma moderna rede social. Deste modo, o Gmail, o Hotmail, o Yahoo, só para citar alguns dos casos mais conhecidos, evoluíram para redes sociais. Muitos dos utilizadores destes serviços foram apanhados em contramão – um clique inadvertido pode disponibilizar, sem mais, muita informação que se pretendia recatar.
Para além desta vertente mais lúdica, que atrai muitos utilizadores, existe o propósito inicial de todas as redes sociais: constituir-se como novo espaço de convívio, em que a partilha de contactos e recursos pode ser uma mais-valia significativa para todas, ou quase todas, as partes envolvidas. Deste modo, muitos estabelecimentos comerciais, revistas, rádios e televisões marcam presença nesses espaços, onde se podem calendarizar eventos, encontros ou mesmo simples jantares no mundo real.
Curiosamente, estas redes sociais constituem-se como bancos de informação pessoal mais extensas e minuciosas do que as muitas polícias secretas poderiam alguma vez almejar. Mais curioso é que o movimento de exposição e de perda de privacidade, pelo menos relativa, é voluntário.
O que se ganha em troca? A troca de informação junto de pessoas e instituições com interesses parecidos com os nossos. Aumentam-se as possibilidades, mas é também aqui que a publicidade adquire uma mais-valia: pode dirigir-se ao seu público-alvo com uma precisão nunca antes possível, ao tornar possível associar palavras-chave a reclames e anúncios (neste momento há uma bolsa de valores que cota o preço dos anúncios postados em relação a pesquisas mais efectuadas na net).
Também a convivialidade diferente possibilita diversas opções: desde a constituição de redes em torno do meio familiar, ou de amizades próximas, a redes mais alargadas. Neste caso, a possibilidade de criação de pequenas audiências, onde se poderá publicitar eventos, opiniões ou simples gestos são outro género de escolhas que se tornam plausíveis.
A possibilidade acabada de adiantar liga-se a uma outra, de forma bastante íntima: a ideia de espectáculo. De facto, se temos uma audiência, podemo-nos transformar em actores, exagerar os nossos gestos, ocultar o que não queremos que seja visto. Podemos olhar para nós e decidir o que pode ser partilhado na rede – os pequenos gestos e gostos, insignificantes por me nores do quo tidiano. Essa troca de insignificâncias frequentemente amplifica a comunicação com as subsequentes vantagens e desvantagens que daí podem advir.
O que é passível de interessar aos outros sofre, assim, um aumento. Tudo se passa como se o espaço da convivialidade informal se transpusesse para a internet. Com imensas diferenças: a ausência de contacto face a face, uma certa matriz espectacular, com a vertente de narcisismo que com ela vem associada, mas também a ausência do direito ao esquecimento. De facto, a marca virtual permanece e os links também. Desta forma, erros ou exposições infelizes ou indesejadas podem permanecer para lá do que será conveniente.
Daí a emergência de uma certa vigilância nas redes sociais. Algumas das mais poderosas construíram programas para identificar ameaças. Trata-se de traçar perfis de comportamento predatório. Assim, perfis com muitos amigos do sexo oposto ou amizades rejeitadas, podem sinalizar comportamentos perigosos.
Recentemente, algumas instâncias internacionais tentaram obrigar certas plataformas a medidas de precaução. No outro extremo dessas medidas, existe todo um conjunto de desafios ainda por mapear em termos de educação para o uso da internet. Será uma tarefa complexa, que se cruzará certamente com as inevitáveis diferenças de gerações e de valores. Em todo o caso, listemos algumas esferas que consideramos importantes: a privacidade e a gestão da imagem; a ocultação de dados pessoais; as expectativas face às amizades em meio internético; os comportamentos sexuais frente a computadores; o sentimento de segurança e de se conhecer quem está do outro lado...
Existem muitos desafios a ter em linha de conta no que diz respeito à educação para o uso da internet, mas o principal, a nosso ver, está precisamente aqui – começar a trabalhar.

Rui Tinoco


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo