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Desafios da educação na era digital

Partindo de uma afirmação-crença de Martín-Barbero, o que pede o cidadão de hoje ao sistema educativo é que o capacite para ter acesso à multiplicidade de escritas, de linguagens e discursos em que se produzem as decisões que o afetam, seja no plano laboral ou familiar, no político e econômico. Para Barbero, há necessidade de uma Escola em que aprender a ler significa aprender a distinguir, a descriminar/comparar, a valorizar (valorar, atribuir valor) e a escolher onde e como se fortalecem os pré-juízos (preconceitos) ou se renovam as concepções que temos da política e da família, da cultura e da sexualidade.
Daí a importância estratégica que adquire hoje uma Escola capaz do uso criativo dos meios audiovisuais e das tecnologias informáticas. Se a educação não tem em conta as mudanças culturais que afetam a sociedade e os processos de comunicação e informação, não é possível formar cidadãos. Existe um grande caudal de informação que os jovens recebem fora da escola. A Escola deve ser centro de confluência dessas informações.
Será a questão da relação do ensino com as tecnologias só uma questão educativa ou uma questão econômica, social e cultural que aportam à Escola?
Neste sentido, podemos discutir a necessidade de uma alfabetização tecnológica, aquela que lida com uma perspectiva de uso das tecnologias de maneira engajada, comprometida, crítica, reflexiva que questiona e sugere modificações nas várias formas de ação em uma sociedade. Retomando Paulo Freire, alfabetizar-se tem uma conotação fortemente social, pois é muito mais do que saber ler e escrever, mas aprender a ler o mundo, compreender contextos e fazer uma relação dinâmica entre linguagem e realidade.
Neste novo paradigma educacional que aflora com tecnologias de informação e comunicação inseridas em nossas práticas docentes, precisamos usufruir de suas potencialidades para nos comunicar, aprender uns com os outros, socializar nossas experiências e produzir novos conhecimentos que possam beneficiar nossos contextos sócio-históricos. Sob esta perspectiva de um uso comprometido das tecnologias educacionais, poderemos transformar a realidade e nos tornar cidadãos emancipados e preocupados em gerar cenários que dignifiquem o ser humano.
Indo ao encontro dos quatro pilares propostos em «Educação: um tesouro a descobrir» (organização de Jacques Delors, 1998), aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver, a sociedade tecnológica sugere uma Escola que esteja aberta à participação de seus pares, à renovação nas formas de se comunicar e de se informar, à partilha de experiências e práticas docentes e discentes, ao envolvimento com o outro de maneira comprometida, a uma ação dialógica, interativa e colaborativa.
Assumir uma posição ingênua de tecnófilo ou tecnófobo ou levantar uma bandeira permeada de preconceitos em relação à inserção das tecnologias no contexto educacional não ajuda nem esclarece a formação de opiniões sobre as causas e conseqüências de seu uso ou não. Ao contrário, abrir espaços presenciais e/ou virtuais, para conhecer, discutir, partilhar e socializar experiências vivenciadas e pesquisas realizadas com as tecnologias educacionais pode ser uma grande possibilidade de desmistificação de que elas chegaram para acabar com o papel do professor ou para solucionar todos os problemas educativos, como se fossem poderosas por si só. O grande diferencial está em quem as utiliza, com suas concepções do que seja ensinar e aprender, com suas visões estreitas ou alargadas do que seja uma educação emancipatória, dialógica, colaborativa, interativa e, principalmente, social.

Cristina Paniago Lopes


  
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