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Ao José Paulo Serralheiro, amigo, mestre e camarada

Hoje, dia 7 de Setembro de 2009, o Zé Paulo foi a enterrar. Demasiado cedo para esta viagem e para perder um amigo. A sua despedida foi dura. Não consegui conter as lágrimas. Só a poesia, as palavras da Teresa, da família e dos amigos me ajudaram a suster a dor e a tristeza. Foi uma cerimónia de compromisso com a família, o sindicato e os amigos.
A sua morte fez-me recordar a sua vida. Sem ele não teria havido sindicatos livres e responsáveis nem “A Página da Educação”.
O Zé  Paulo era um homem bom, uma referência como pessoa, cidadão, sindicalista, professor e jornalista. Quero aqui fazer jus ao seu trabalho árduo e sábio, com uma voz serena, uma frontalidade tranquila, mas difícil de calar. Com ele afogámos muitas mágoas, aprendemos a ser solidários e a construir a democracia da vida.
As suas atitudes transparentes, cordiais e democráticas, sem tricas nem nicas, facilitaram muitos processos de diálogo e negociação. Assumiu os desafios da educação – nos avanços e recuos – com uma postura ética e profissional. Dou-lhe a palavra: “É preciso desenvolver uma nova concepção da educação. Uma educação que promova, de facto, um conjunto de valores alternativos aos valores do discurso e das práticas hoje dominantes e que não seja apenas consolidadora do discurso social e político existente e dos modelos de sociedade e de vida que lhe estão subjacentes. Uma educação que, na análise de si mesma, não despreze a política, antes a integre como elemento fundamental à compreensão do seu papel social, e assim se assuma como geradora de valores alternativos” (1997).
Num tempo em que as políticas dominantes continuam a trilhar outras direcções, é imprescindível recuperar esta pedagogia da esperança, revisitando a sua vida e a sua obra. A mim enternecia-me quando o ouvia defender com paixão e serenidade a liberdade, a justiça, a solidariedade e o “poder suave dos Direitos Humanos” (2008).
A sua obra ajudou a criar condições para que as escolas e os professores sejam agentes de mudança, desocultando hipocrisias, trampas, falsas autonomias e discursos retóricos de legitimação do poder. Deu carinho, esperança e visibilidade aos anónimos – pessoas de carne e osso – que de uma forma silenciosa ajudaram a construir a igualdade de oportunidades e as oportunidades para a igualdade na escola pública e democrática.
Foi uma honra e um privilégio partilhar com ele reflexões e acções, ao longo de 25 anos. Nos últimos tempos, mesmo doente, continuava a alimentar sonhos e a alumiar caminhos para que o nosso empenhamento e compromisso com a educação pública e a profissão docente não esmorecessem.
Honrar o seu trabalho é lutar com valentia cívico-política pela reinvenção do sistema educativo e dar continuidade ao seu velho e novo projecto – “A Página da Educação”. O 25 de Abril, o sindicalismo, a democracia e a defesa dos Direitos Humanos agradecem.
Em memória do Zé Paulo, para que ele continue connosco, e cumprindo a parte que me toca, continuarei a colaborar na “Página da Educação”.

Américo Nunes Peres


  
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