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O que move os professores? Profissão docente debatida no Porto

Será a profissão docente respeitada pelo poder e pela sociedade? Qual o sentido da mudança necessária e urgente? Para refletir e equacionar respostas a estas questões, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) promoveu, no dia 18 de abril, no Porto, uma conferência sobre Autoridade Profissional Docente: Sentidos de uma Mudança Urgente – tema com “importância acrescida, face à funcionarização crescente da profissão, ao apoucamento da dignidade profissional docente e à desvalorização da sua formação”, como referiu Manuela Mendonça, do Secretariado Nacional da Fenprof e coordenadora do Sindicato dos Professores do Norte.

Na sessão, Ilídio Ferreira apresentou os resultados do estudo Teachers Exercising Leadership: challenges and opportunities (2011-2014). A investigação pretendia identificar razões para a persistência da motivação dos professores e compreender como eles veem o seu trabalho e constroem a sua profissionalidade. Entre outras, o estudo evidencia preocupações relativamente à instabilidade profissional, à precariedade laboral e à degradação da condição docente e da imagem social da profissão. “A intensificação do trabalho aliada à falta de reconhecimento político e social conduzem a sentimentos de desânimo, frustração, cansaço e tristeza”, sintetizou o docente da Universidade do Minho, chamando a atenção para o “pânico” que habita as escolas face à “tirania” exercida sobre os professores, “que têm de provar constantemente que são excelentes”. Mas, segundo Ilídio Ferreira, esses fatores não paralisam os professores na sua ação profissional: “os professores recebem e proporcionam encorajamento, motivação, autoestima e confiança necessários ao exercício da profissão”.

Na perspetiva de Manuela Esteves, “há uma ideia muito persistente entre os professores de que não são estimados. Pelos poderes públicos, isso é evidente, mas pelos pais, pelas comunidades, pelos alunos, já não é assim tão evidente” – a profissão docente é das que mais confiança merece aos portugueses, lembrou, mas é necessário multiplicar vozes no sentido de partilhar e valorizar socialmente o empenho dos professores e das escolas no trabalho com os alunos e com as comunidades onde estão inseridas. A investigadora da Universidade de Lisboa considera fundamental “uma perspetiva de mudança equilibrada e crítica” e que essa construção “deve corresponder a um esforço coletivo e ter tradução nos espaços de formação: inicial, contínua e especializada”. Para Manuela Esteves, uma das competências que a formação de professores deve valorizar “é a capacidade de juízo crítico, que também convém que lancemos sobre nós e sobre o grupo profissional”.

Isabel Baptista, por seu lado, sublinhou a necessidade de se colocar a ética profissional docente na agenda político-sindical, no sentido de afirmar a profissão no espaço público e de construir uma relação de pertença a uma comunidade profissional. “Falar de ética é falar de decisão profissional, e este é um aspeto em que temos de investir”, debatendo e tomando uma posição coletiva sobre a definição da profissão e o que a caracteriza, “criando referências e padrões que ajudem a criar coesão, orientação interna, afirmação pública e consciência política”. Contudo, “não basta ficar pela afirmação pública de valores, é preciso definir comportamentos, assumir procedimentos”, considera a docente da Universidade Católica e diretora d’A Página da Educação. Segundo Isabel Baptista, “ética não é cosmética, não é algo que acrescentamos ao que fazemos. A ética é interior à profissionalidade, cobre todas as dimensões do exercício profissional”.

A encerrar a conferência, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, alertou para “os silêncios” que se notam em algumas escolas, refletindo o desânimo dos docentes, e destacou a necessidade de se inverter o caminho de desvalorização do sistema de ensino público e da imagem dos professores.

A conferência do Porto foi a segunda de um ciclo que a Fenprof está a promover a nível nacional, até final de maio. A próxima [Ensino Superior e Ciência: a (des)construção de um sistema] vai decorrer em Coimbra, no dia 20 de abril. [+ informações e audiovisuais sobre o ciclo estão disponíveis em www.fenprof.pt]

PÁGINA/Maria João Leite


  
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