Argentina também "poupa" na Educação "Neste momento temos fundos para pagar os salários até ao fim do ano, mas não existe dinheiro para abrir as portas da universidade a partir de Setembro. Não há verba para pagar a luz, a água, o aquecimento, o telefone e outros serviços.". Este é o alerta lançado pelo reitor da Universidade do Comahue, Jorge Ravassa, após o anúncio do decreto do Poder Executivo argentino, que cortou 280 milhões no orçamento educativo e 100 nas universidades públicas. Decanos e representantes de professores, alunos, licenciados e empregados da Universidade de Buenos Aires tomaram conhecimento da decisão governamental quando, como símbolo da resistência aos cortes nos gastos da educação, efectuavam uma vigília na reitoria e em diversas faculdades. O reitor da UBA, Oscar Shuberoff anunciou que, se tal acontecesse, a universidade teria de fechar as portas a 1 de Outubro. Ao seu protesto juntaram-se os de vários reitores de universidades públicas do interior do país, bem como os dos decanos de Psicologia, Raúl Courel, e de Ciências Económicas, Juan Carlos Chervatín. Professores e alunos protestaram a uma só voz, de diversas maneiras, a partir de cenários improvisados: fizeram cortes que paralisaram o movimento nas ruas da cidade, convocaram a paralisação de toda a actividade académica por várias horas, efectuaram apagões. A Faculdade de Filosofia e Letras manteve o espírito académico vivo e radical na sua postura. Na sede das Ciências Sociais o protesto foi inusitado, pois o centro de estudantes trouxe para a rua vários computadores para os estudantes enviarem "e-mails" de repúdio através da Internet. Foi assim que a notícia chegou a "A Página" Desemprego docente e Ensino Superior Escreveu Michel Renaud em artigo publicado no 52° volume da Revista Portuguesa de Filosofia que "quando existe no país um excedente, por exemplo, de médicos, de psicólogos ou de professores de filosofia, será que o Estado tem o direito ou o dever de limitar o acesso a estes estudos? Se a formação universitária for compreendida como científica antes de mais nada, não se justificará uma restrição de acesso; mas se a formação desemboca numa saída profissional, pertence aos poderes públicos regulamentar este acesso a bem da colectividade." Acrescentou ainda que "a universidade deve formar, ensinar, investigar, sem referência as saídas profissionais; para este efeito, ela deve alargar o leque das possibilidades de escolha de cursos, não se limitar a ser escola profissional e manter o seu ensino a um certo nível de generalidade." Para os cursos via científica não deveriam haver entraves, porque todos os cidadãos têm o direito a obtenção de graus académicos superiores. Não existe aqui qualquer interesse ou perspectiva que não seja de índole puramente científica ou cultural. Neste caso, as nossas universidades deveriam abrir as portas a todos os interessados, sem qualquer limite. Para os cursos via ensino, cujas saídas profissionais são maioritariamente garantidas pelo Estado, será de todo o interesse que haja um efectivo controlo nas vagas postas a concurso, uma vez que o "numerus clausus" existente se mostrou incapaz, pelo menos em alguns cursos, de resolver o problema. Salvaguardando-se uma pequena margem de tolerância que permita uma certa flexibilidade, em função das oscilações do universo discente e do número de substituições sempre difíceis de prever com exactidão, não faz sentido que se continue a formar professores em excesso, caindo-se em situações como a que se vive actualmente. Por isso se apela ao Ministério da Educação que não coloque vagas virtuais à disposição de quem ainda acredita no sistema. Exige-se, no mínimo, que os candidatos a cursos via ensino, sejam devidamente esclarecidos das dificuldades que irão encontrar e das reais necessidades do país, para, assim, poderem acautelar o seu futuro e assumir de forma consciente a opção que vierem a tomar. Algo terá de mudar no sistema de acesso ao ensino superior, para acabar com assimetrias como a de haver excesso de professores e falta de profissionais de saúde. Dever-se-á esta situação apenas a uma má gestão e orientação dos recursos humanos disponíveis? "As pessoas que moram nos alunos" As Edições ASA realizam, entre 8 e 10 de Julho, a quinta edição do Curso de Verão 99, no centro de congressos da Exponor (Matosinhos). O tema escolhido para este ano é "As pessoas que moram nos alunos; Ser jovem, hoje, na escola portuguesa". Segundo a comissão organizadora, este título significa que "a dignidade de cada ser humano está primeiro que qualquer imposição legal estatal e à educação escolar caberá, antes de mais, respeitá-la e criar condições para que as pessoas não fiquem escondidas, em cada sala de aula, por detrás dos alunos.". Assim, esta iniciativa tem dois objectivos de visão: um olhar que requisite o contributo de quem estuda as crianças e os adolescentes para além do quadro institucional escolar, numa abordagem interdisciplinar, enriquecedora enquanto co-educadores; um olhar que atente sobre os que se dedicam, no quotidiano escolar, a construir práticas de ensino e de aprendizagem capazes de descobrir a pessoa por trás do aluno. As conferências serão realizadas por peritos convidados, procurando colocar "algumas e importantes questões ao modelo escolar da sociedade moderna: "Os filhos dos 'media' em conflito com a escola e vice-versa (Prof. Doutor Manuel Pinto); "A escola de ontem face aos adolescentes de hoje: como poderá ser amanhã? (Prof. Doutor Daniel Sampaio); "Comportamento dos adolescentes de hoje: resultados de alguns estudos" (Prof Doutor José Machado Pais); "O modelo escolar em transformação: como irá ele ser capaz de fomentar a formação da personalidade?" (Dr. Juan Carlos Tedesco - Argentina). As inscrições poderão ser feitas até 30 de Junho (20 mil escudos), escrevendo para Curso de Verão 99, ASA Editores II, S.A., Apartado 4623, 4004 Porto, ou ainda, pelo telefone 02-9732521. Para mais informações, o leitor interessado poderá consultar o site www.cursoverao.pt . Luis Barbosa Tenedório Viana do Castelo
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