PORQUE O FUTURO É HOJE
É opinião de consenso entre largos sectores da sociedade que a educação ambiental devia constituir uma das prioridades dos sistemas educativos mundiais. Ela será, indubitavelmente, uma das formas mais decisivas para tentar travar a progressiva degradação do planeta e desenvolver uma nova percepção e atitude face ao ambiente e à utilização dos recursos. Nesse sentido, a carta de Belgrado, adoptada em Outubro de 1975, por iniciativa conjunta da UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO e do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, preconiza que quaisquer mudanças ou formulação de novas concepções de desenvolvimento poderão não passar de 'soluções a curto prazo' se os jovens de todo o mundo não receberem um novo tipo de educação. Uma educação que, segundo o mesmo texto, 'exigirá o estabelecimento de relações novas e criativas entre alunos e professores, entre as escolas e a comunidade, e entre o sistema de educação e a sociedade no seu conjunto'. Mais ainda, que 'a reforma dos processos e dos sistemas educativos é essencial para a elaboração de uma nova ética do desenvolvimento e da ordem mundial'. Ao abordar-se este tema, porém, ele poderá sugerir um relacionamento exclusivo com a ecologia. Não é assim. As palavras proferidas na conferência intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada dois anos depois, em Tbilissi, e organizada uma vez mais por aquele organismo das Nações Unidas, torna evidente a existência implícita de um conceito mais abrangente. Princípios que se deverão pautar por uma 'educação de carácter permanente, geral, adaptada às mudanças de um mundo em rápida evolução', preparando o indivíduo para a vida mediante a compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe os conhecimentos teóricos e as qualidades necessárias para desempenhar um papel activo no melhoramento da qualidade de vida e na preservação da natureza, sem esquecer os 'valores éticos'.Poucos avanços
Adoptando esta perspectiva global, enraízada numa ampla base interdisciplinar, a educação ambiental tenta criar 'uma nova visão global dentro da qual se reconhece a existência de uma profunda interdepedência entre o meio natural e o artificial'. Mas a boa vontade demonstrada pelos seus signatários, há vinte anos atrás, só agora começa a produzir efeitos. 'Ainda poucos', segundo Walter Gomes, elemento directivo da Quercus e responsável pelos centros ambientais de Matosinhos e do Porto, já que essa iniciativa coube, desde sempre, às organizações não governamentais. Os governos continuam a actuar de uma forma 'reactiva' face aos problemas ambientais e sociais e negligencima a formação de base como principal factor de prevenção. Os resultados das opções políticas de crescimento demonstram ter havido erros estratégicos graves, e só um cidadão informado pode obrigar o estado a repensar medidas e a ser mais activo. 'Essa atitude só pode começar na escola', defende, mas nunca sob a lógica do ensino formal. Antes sob a forma de um espaço onde se manifeste e satisfaça a curiosidade, aprendendo a descobrir e a usar o conhecimento como instrumento de exploração do meio. A observação de pequenos animais é disso um exemplo. O nosso desprezo por muitos deles advém do nosso desconhecimento acerca dos seus hábitos e comportamentos e do seu papel específico no meio. Dessa maneira, até um simples bicho-da conta pode ser engraçado aos olhos de uma criança. Da mesma forma, uma árvore queimada, normalmente encarada como mais um número nas estatísticas, passa a ter uma significado especial se a plantarmos e a virmos crescer', explica. É esta dimensão psicológica, onde a informação leve à inquietação, conduza à participação e à necessidade de mais informação, que importa incutir às crianças e jovens em idade escolar e, tanto quanto possível, aos adultos. Afinal, 'só se pode proteger aquilo que se conhece'. O aproveitamento das potencialidades da escola e a interacção com os professores processa-se através de acções de sensibilização e de formação e de um acompanhamento dos projectos iniciais. Mais tarde, será a eles que competirá a formulação e a avaliação dos trabalhos desenvolvidos. Neste capítulo, importa dizer que o sucesso destas iniciativas não se mede pelo maior ou número de participantes, como muitas vezes acontece. Ele deve, isso sim, ser avaliado quanto aos métodos e aos resultados atingidos, sabendo de que forma foram desenvolvidas as capacidades dos alunos', afirma Walter Gomes. 'Muitos alunos estão apenas de corpo presente no grupo, não participam e não interiorizam os objectivos das acções. É importante, por essa razão, analisar os resultados para corrigir as falhas'. Acima de tudo, a educação ambiental devia fazer parte de uma estratégia de progressão concertada entre os vários níveis de ensino. Estamos a falar da formação de cidadãos, como tal ela não pode ser entendida de uma forma estanque, devendo antes constituir-se como um processo de aprendizagem contínuo. Neste domínio, Walter Gomes reconhece que a experiência tem-se demonstrado 'relativamente frustrante'.
Centros de Educação Ambiental
Os centros de educação ambiental surgem a partir de protocolos estabelecidos entre a Quercus e as autarquias interessadas. Na região do Grande Porto existem dois - um na cidade e outro, mais recente, em Matosinhos -, vocacionados para as funções de Educação para o Ambiente e Desenvolvimento à luz dos pressupostos atrás descritos e das actuais tendências de educação não formal. Apesar de se dirigirem principalmente às populações escolares, os centros de educação ambiental estão também abertos à comunidade, nomeadamente através das juntas de freguesia e associações locais. O centro de documentação será, porventura, um dos espaços de maior importância, já que, brevemente, estará ligado a outros centros ambientais através de uma rede informática. Assim, e além dos suportes informativos escritos para consulta ou utilização temporária, os utilizadores poderão aceder, em tempo real, a um variado lote de informações e projectos integrados neste âmbito. Do calendário de eventos do Centro Ambiental de Matosinhos faz parte o ciclo de colóquios subordinado ao tema 'Ambiente e Educação: os desafios da interacção urgente', através da participação de um convidado, político ou técnico, e de um outro elemento que faça a ponte com a audiência. As sessões são públicas, mas previligiar-se-á a participação de docentes, a fim de que as conclusões sejam posteriormente rentabilizadas. Com uma frequência mensal, serão dinamizados ainda ciclos temáticos destinados a professores e a educadores de infância onde se abordarão temas relevantes da actualidade, numa perspectiva não formal. Para isso, serão apoiados com a distribuição de textos de apoio, listas bibliográficas e de contactos, disponibilização de materiais auxiliares como filmes vídeo, diapositivos e respectivos guiões e fichas de trabalho prático e, paralelamente, a realização de trabalho prático de campo, com a participação de educadores destacados no centro, com vista a garantir a despistagem de dúvidas e insuficiências na transposição para a escola das actividades previstas. Neste sentido, irá ser lançada, a breve prazo, uma campanha para a constituição de uma rede nacional de espaços florestais, com o objectivo das escolas e turmas poderem aceder a talhões de terra pré-determinados e realizarem lá os seus trabalhos. Entretanto, já no próximo dia 15 de Maio terão lugar as primeiras Jornadas de Educação Não Formal de Matosinhos. Além de divulgar os conteúdos das futuras actividades e apresentar potenciais entidades parceiras, o encontro destina-se também a discutir conceitos e metodologias conducentes a novas práticas, e a promover as condições para o desenvolvimento de projectos que englobem a participação de escolas de diferentes graus de ensino. Estarão presentes alguns especialistas em Educação para o Ambiente e Desenvolvimento, onde se fará a apresentação dos respectivos materiais de apoio às escolas.
Ricardo Jorge Costa
|