Página  >  Edições  >  N.º 177  >  "Apoiar os jovens pintores está na linha da frente das nossas prioridades"

"Apoiar os jovens pintores está na linha da frente das nossas prioridades"

Entrevista  Isabel de Castro administradora da Fundação Mário Botas

No próximo mês de Setembro serão assinalados 25 anos sobre a morte do pintor Mário Botas. Na Nazaré, sua terra natal, fomos visitar o edifício-sede da Fundação que pretende lembrar o artista e apoiar a jovem geração de pintores portugueses. Isabel Castro, jurista, alma deste projecto, recebeu-nos na vila, mostrou a casa e falou do sonho que vai ser realidade. Apesar dos atrasos na conclusão da obra.

A Fundação foi um objectivo definido pelo jovem artista Mário Botas. Pode-nos recordar a origem desse sonho, hoje projecto em marcha?

Isabel Castro (I.C.) ? No seu testamento, Mário Botas, falecido em Setembro de 1983, deixou as "linhas-mestras" da sua Fundação, aquilo que ele queria que fosse esta instituição. São objectivos muito claros. Por exemplo, ficou definido que a sede deveria ser na vila da Nazaré, razão pela qual estamos a construir este edifício, onde deveria ficar a sua obra artística; e que esta instituição deveria ter também uma dependência administrativa em Lisboa, o que está concretizado (trata-se da sua antiga residência na capital). Um pormenor interessante: Mário Botas deixou aos seus amigos indicações quanto à identificação das salas da futura Fundação na Nazaré - deveriam ser atribuídos nomes de artistas ( escritores), portugueses. Naturalmente, vamos concretizar também essa orientação.

Quais são os principais objectivos da instituição?

I. C. ? O principal objectivo da Fundação, que, aliás, consta do testamento, é a conservação e divulgação da obra do pintor Mário Botas. Este é um objectivo central que nós nunca podemos esquecer. É para isso que temos de trabalhar, com toda a nossa energia. A Fundação tem outros objectivos, nomeadamente no campo da cultura e da juventude, onde a primeira prioridade será o fomento das artes, e, nesta linha, o apoio aos novos valores, dando aqui especial relevo aos jovens.pintores
Surgem ainda outras direcções de trabalho como a edição de livros, a promoção de iniciativas diversas no campo da dinamização cultural e a estreita colaboração com os estabelecimentos de ensino, a começar, naturalmente, pelo concelho da Nazaré.
Tendo como horizonte a concretização destes objectivos, estamos a construir o nosso projecto de actividades e de ocupação do espaço que temos aqui. Todo o nosso esforço tem apontado, em grande parte, para a concretização do edifício, situado na Avenida Vieira Guimarães, no coração da Nazaré.

Como se explica, então, o atraso na conclusão do edifício?

I.C. ? Explica-se pelo facto do empreiteiro ter abandonado a obra. Em Abril de 2006 retirou-se, não por falta de pagamento, simplesmente porque a empresa que ganhou o concurso viu-se a braços com uma crise interna que a levou à falência técnica (até à data não foi declarada falência no plano jurídico). Tecnicamente, deixou de ter capacidade para prosseguir o trabalho, aliás não só nesta obra como noutras que tinha em curso, noutros locais. A partir daí, tem sido difícil relançar os trabalhos por questões burocráticas e também porque as linhas de financiamento se esgotaram e há uma derrapagem entre aquilo que vai custar a conclusão da obra e o que estava orçamentado desde início. É necessário arranjar uma solução. Contamos apenas com o apoio da Câmara, que tem um compromisso de financiamento destra construção em 10 por cento, que ainda não cumpriu na totalidade. Assim, fizemos um inventário daquilo com que podemos contar e daquilo que temos. Estamos a encontrar uma solução de relançamento e financiamento da obra.

Há datas para essa derradeira etapa?

I. C. ? Temos a esperança de reiniciar os trabalhos antes do próximo Verão. A sua conclusão? Não fazemos ideia, embora o nosso objectivo seja acabar ainda neste ano de 2008, mas não temos para já garantias que isso possa acontecer.

Mesmo sem ter uma sede, a Fundação tem desenvolvido trabalho ao longo dos últimos anos. Pode fazer-nos um balanço dessa actividade?

I. C. ? A Fundação tem desenvolvido trabalho, como o demonstram as várias exposições e outras actividades realizadas desde meados dos anos 80. A primeira dessas exposições teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, em parceria com o seu Centro de Arte Moderna, em Janeiro de 1989. Depois de alguns anos de interregno as exposições recomeçaram em 1997, com os "autoretratos", no Centro Cultural da Nazaré, mas de todas as já efectuadas, destaco, em 1998 no Centro Cultural de Belém, entre Maio e Outubro, a retrospectiva da sua obra, e em 2004 uma outra exposição em Madrid, no Circulo de Belas Artes, pela sua grande importância e impacto.
A Fundação ofereceu livros e catálogos sobre Mário Botas a todas as escolas do concelho. Em 1999, pior iniciativa de alunos e professores, teve lugar na Escola Amadeu Gaudêncio, na Nazaré, uma exposição de uma semana, com várias obras do pintor, iniciativa que teve a nossa colaboração, tal como outra envolvendo a Escola Básica 2.3 de Santa Clara, em Évora ("Botas recriado"), a partir de uma exposição que nesse ano fizemos no Museu de Évora, em colaboração com o Instituto Português de Museus.
E já que falamos de escolas, aproveito para sublinhar que temos um projecto, em fase adiantada, que visa a montagem de um conjunto de reproduções das obras do pintor. Trata-se de uma exposição itinerante para todas as escolas interessadas. O objectivo é concretizar esse projecto ainda neste ano de 2008, uma vez que se assinalarão em Setembro os 25 anos sobre a morte do pintor.

Quais são os órgãos da Fundação?

I. C. ? De 1989 até 1997, a Fundação teve o seu primeiro Conselho de Administração e o seu 1º presidente, que era o pai do pintor. Hoje, continuamos a ter cinco administradores (o presidente é o Professor Almeida Faria, e quatro vogais), um conselho fiscal e um conselho consultivo, além de um conjunto de colaboradores em regime de? voluntariado. Apenas contratamos pontualmente alguém para tarefas muito concretas ou para assessorias, em regime de prestação de serviços. Quando o edifício da Nazaré estiver pronto, a Fundação terá que contratar pessoas, mas para um quadro necessariamente reduzido.

Como é que se assegura a sobrevivência financeira da Fundação?

I. C. ? Mário Botas deixou a esta Fundação todos os seus bens e é esse património que a instituição gere. Até agora, a instituição tem vivido graças à rentabilização do seu património, constituído (além da obra do artista) por várias propriedades, deixadas pelo pintor e pelos pais. Como já disse, a gestão desse património garante verbas fundamentais para fazer face às despesas básicas da Fundação, ou seja para as despesas do dia-a-dia.

Como é que se conseguiram as verbas para a construção da sede, aqui na Nazaré?

I. C. ? Para construir o edifício, contámos com a doação de parte do terreno pela Câmara Municipal da Nazaré; e com uma verba do PIDDAC, com um financiamento através do 3º Quadro Comunitário de Apoio, gerido pela CCR / FEDER, que financiou a obra em 50 por cento do seu valor.
Para além disso, como nestes projectos financiados tem que haver uma componente local e nacional, a Fundação comparticipou com uma percentagem conseguida com a venda de um seu imóvel, muito degradado, cuja recuperação seria muito difícil. Conseguimos assim, cumprir o contrato-programa que tínhamos estabelecido com as entidades citadas.

É possível imaginar um cenário de desenvolvimento do turismo da Nazaré a partir da componente cultural que vai envolver a dinâmica da Fundação num futuro que se deseja breve?

I. C. ? Nós temos um projecto que está em embrião que contempla a inserção da FMB na informação geral, nos roteiros e nos pacotes turísticos da Região Oeste. Acabou a Região de Turismo Leiria Fátima, na qual estávamos incluídos. Teremos que estabelecer contactos com a nova entidade, para, neste novo figurino, refazer os nossos circuitos, conseguindo que os operadores turísticos incluam na atractiva visita à Nazaré a vinda à Fundação Mário Botas, espaço cultural aberto, capaz de cativar o interesse e a sensibilidade dos turistas. A nossa ideia, também, é trazer exposições e outros eventos de qualidade que possam atrair públicos. A outra perspectiva é a dinamização do auditório e das salas que a Fundação vai ter disponíveis por exemplo para conferências, colóquios, debates, espectáculos, abrindo esta oferta aos agentes económicos e culturais da região e do país, interessados em promover neste concelho os seus eventos ou as suas reuniões de trabalho, acções de formação e cursos, entre outras actividades, usufruindo não só dos espaços como dos serviços que a Fundação estará em condições de assegurar, isto também, naturalmente, numa perspectiva de rentabilização do equipamento e em parcerias com as unidades hoteleiras da vila. A ideia é apostar nessa dinâmica ao longo de todo o ano. Naturalmente, não vamos propor a uma empresa que queira realizar uma reunião ou um curso de actualização dos seus quadros ou qualquer outra actividade neste âmbito a sua marcação na chamada época alta. Não só para assegurar preços competitivos em termos de alojamento como uma certa paz e tranquilidade a quem participa nesse tipo de acções.

Quais são os espaços e equipamentos mais significativos que encontramos ao longo destes quatro pisos da Fundação Mário Botas?

I. C. ? Além dum auditório com cerca de 120 lugares, apoiado por uma zona de camarins e outras instalações de apoio, como a reggie e duas cabines de tradução simultânea, a Fundação terá um espaço amplo para as exposições permanentes, onde se destacará o espólio de Mário Botas, e outra zona para exposições temporárias. Terá ainda uma sala polivalente, diversas salas de reuniões e também um centro documental com apoio das novas tecnologias de informação e comunicação, bar, esplanada, loja e gabinetes de trabalho.

José Paulo Oliveira
Jornalista


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

Isabel de Castro
Administradora da Fundação Mário Botas
José Paulo Oliveira

Isabel de Castro
Administradora da Fundação Mário Botas
José Paulo Oliveira

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo