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Mais de um bilião de seres humanos sem acesso a água

A ONU dedicou o dia 20 de Março a uma Jornada Mundial da Água, cuja escassez afecta mais de um bilião de seres humanos, situação que ficará ainda pior no futuro sob a dupla pressão do aquecimento global e da procura exponencial da população mundial.
Neste ano a data - adiantada desta vez em dois dias por causa do final de semana de Páscoa - permite medir a ausência de progressos: hoje, um terço da humanidade (2,4 biliões) continua a viver sem acesso a uma água de qualidade nem a simples vasos sanitários e em cada dia, 25.000 pessoas morrem em função disso, sobretudo crianças.
Diante deste panorama, a 7ª Meta de Desenvolvimento para o Milénio, adoptada em 2002 na reunião de cimeira de Johannesburgo, que, entre outras coisas, estipula a redução para metade, até 2015 e em relação a 1990, do número de humanos sem acesso à água potável, é praticamente impossível de ser atingida.
Seria necessário que, em cada ano e até ao final do prazo estabelecido, mais 100 milhões de pessoas tivessem água em condições de consumo, ou seja, 274.000 por dia.
Para que a água seja igualmente distribuída pelo planeta, e para que uma água de qualidade seja acessível a todos, é preciso pagar o preço. "Globalmente, ela é abundante em lugares onde não há ninguém", afirma Pierre Chevallier, especialista em Recursos de água do Instituto (francês) de Investigação para o Desenvolvimento (IRD): a região amazónica do Peru ou do Equador, pouco povoada, é rica em fontes de água, enquanto que toda a costa do Pacífico, pulmão económico que abriga grandes cidades está seca, até ao Chile. "A situação vai piorar com o aquecimento global, que acelerará os fenómenos de evaporação e do descongelamento das geleiras e reduzirá ainda mais a quantidade de água disponível", explica Chevallier. "Com a pressão demográfica: não apenas a população mundial aumenta, mas também as exigências desta população com a melhoria das suas condições de vida nas grandes países emergentes".
Hoje a água reservada ao uso doméstico ? ao consumo humano e à higiene dos lares - serve apenas para 10 por cento do consumo planetário (contra 20 por cento para a indústria, principalmente para a produção de energia e 70 por cento para a agricultura em média).
Mas consideráveis disparidades são registadas em regiões como a Ásia, onde a agricultura pode absorver mais de 85 por cento das reservas. "O consumo de água varia sobretudo de acordo com critérios económicos e culturais e países que produzem pouco como os do Golfo podem estar também entre os grandes consumidores", salienta o investigador.
Em média, um cidadão norte-americano consome 500 litros de água/dia e um europeu 200 a 300 litros, enquanto um africano da região saariana dispõe de 10 a 20 litros de água/dia para uso doméstico. E estes desequilíbrios, quantitativos e qualitativos, vão exacerbar-se.
Alguns hábitos alimentares, adoptados devido à melhoria da qualidade de vida, envolvem particularmente altos índices de consumo: 15.500 litros de água são necessários para produzir um quilo de carne de boi industrializado, lembra a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUE), com uma população de 1,5 a 1,8 biliões até 2050, a Índia terá necessidade de 30 por cento de água a mais do que dispõe hoje, enquanto que a sua agricultura, sobretudo a rizicultura, já absorve cerca de 90 por cento dos recursos disponíveis. "O problema é que armazenar ou transportar a água necessita de investimentos colossais", ressalta Pierre Chevallier. "Isso não é tecnicamente impossível, mas os países que têm mais necessidade geralmente não possuem os meios".

AFP


  
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Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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