«Espalhado pelo mundo, existe um apaixonado caso de amor entre crianças e computadores.» Seymour Papert, A Família em Rede (1997)
Quase em tempo de férias, chegámos à última parte Ciberleitura. Até aqui, e sucintamente, recordámos as principais etapas da história da leitura e a sua importância em todas elas. Desde a leitura em voz alta até à leitura silenciosa, os suportes de leitura têm evoluído de forma admirável, a tal ponto que podemos hoje, em plena 3ª revolução da leitura, ter a possibilidade teórica de disponibilizar todos os escritos da Humanidade a toda a população mundial e a possibilidade efectiva de um só indivíduo escrever os seus textos e publicá‑los num tempo mínimo, a baixo custo, para um vasto público. Neste contexto, a criação de sites de escolas (e, nos últimos anos, de blogs) representam uma excelente oportunidade de trabalho. A motivação das crianças é garantida; cabe ao professor organizar conteúdos igualmente apelativos. O estudo prático que realizei (entre Dezembro de 2003 e Julho de 2005) consistiu em analisar 5 sites de escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico de Portugal Continental (1 por Direcção Regional de Educação), no sentido de apurar possibilidades de motivação para a leitura no computador (ou a partir dele). Os 6.906 sites iniciais exigiram critérios de selecção que poderão ser sempre questionáveis, dado o cariz mutante das produções on‑line, mas era impraticável verificar todos os sites num mesmo momento. O estudo, que teve apenas interesse ilustrativo, revelou, por exemplo, que (i) a maioria das escolas tem uma página inicial; (ii) muitas têm várias páginas; (iii) o desenho gráfico da grande maioria é idêntico e produto do trabalho dos formadores do Programa Internet@EB1; (iv) poucos sites são actualizados regularmente, por exemplo, uma vez por mês e (v) há muitos textos para ler, principalmente, escritos por alunos, apesar de poucos estarem datados. De um modo geral, percebe‑se que a dinamização do site é da responsabilidade de apenas um ou outro professor. No caso deste(s) mudar(em) de escola, o trabalho pára. É também notório o contributo que o Programa Internet@EB1 (trabalho directo 4 vezes por ano a turmas de 4º Ano, principalmente) teve na agitação TIC das nossas escolas. Contudo, as dificuldades tecnológicas surgem diariamente e os professores que estão pouco motivados nesta área, não tendo alguém próximo a quem recorrer, acabam por regressar à calma. Desde a mítica era Minerva (1985 ? 1994), que iniciou as TIC em algumas escolas portuguesas, passando pelo Programa Nónio Século XXI (1996 ? 2005?), pelo Programa Internet na Escola (1997 ? 2001) e pelo Programa de Acompanhamento da Utilização Educativa da Internet nas Escolas Públicas do 1º Ciclo do Ensino Básico, abreviadamente chamado de Programa Internet@EB1 (2002 ? 2006), muito se tem feito pelas TIC nas escolas portuguesas. Mas já passaram mais de 20 anos e muito há ainda por fazer. Talvez algumas escolas de formação inicial devessem dar mais atenção a esta área, pois à data da conclusão do meu estudo (Outubro de 2006) as TIC ainda não eram disciplinas obrigatórias no currículo da maioria dos futuros professores. Talvez muitos dos professores activos devessem encarar as TIC como outra qualquer matéria que tem de ser trabalhada e, caso não dominem a matéria, talvez devessem cuidar da sua formação ao longo da vida, (característica da sociedade em que vivemos). Talvez o(s) organismo(s) que têm competências no equipamento das escolas devessem pensar que as turmas têm, muitas vezes, 25 a 30 alunos e que um computador, tantas vezes avariado por tempo indeterminado, é claramente insuficiente. Deixo duas sugestões para curto prazo: (i) aquisição de computadores portáteis (OLPC) criados por Nicolas Negroponte, os quais podem ser comprados pelos Ministérios da Educação por (apenas) 84 euros, desde o início de 2007 e (ii) colocação nas escolas (grupos de escolas) de um professor com perfil especializado para desenvolver actividades que envolvam as TIC, para formar os docentes e auxiliares que não possuam as competências básicas na matéria e os que, tendo‑as, queiram aprender mais e, ainda, para coordenar uma equipa rotativa, responsável pela dinamização do site da escola. Esgotados os caracteres para este artigo, talvez eu devesse concluir esta (ciber)leitura, reforçando a ideia de que o mais importante é ler, independentemente do suporte de leitura. Se o computador favorece a leitura, então que se utilize (acautelando os perigos via Internet, claro). Adquirido o gosto e a prática regular da leitura, o leitor sentirá que jamais se poderá apartar de tal bênção.
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