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Primórdios das telecomunicações em Portugal
O telégrafo eléctrico, o primeiro meio de telecomunicações na acepção actual foi conhecido entre nós desde 1839, cerca de dois anos depois de Cooke e Wheatstone, no Reino Unido, e de Morse, nos EUA, terem feito as suas primeiras demonstrações "laboratoriais" com telégrafos. Aqueles estabeleceram a primeira ligação na região de Londres, em 1841, e a de Morse, entre Baltimore e Washington, veria a luz do dia em 1844.
Em 1855 começou a construir-se a rede telegráfica em Portugal, tendo ainda nesse ano sido inaugurados os primeiros troços, numa extensão de 32 km e incluindo 4 estações. Em 1857, foi disponibilizado o serviço público de telegrafia e implementada a primeira ligação internacional, entre Elvas e Badajoz. Desenvolvendo-se com rapidez, a rede telegráfica já tinha 1682 km em 1859, estando presente em todas as capitais de distrito.
No nosso País, a telegrafia eléctrica foi introduzida antes do caminho-de-ferro, numa sequência diferente da generalidade dos países que estiveram na vanguarda destes processos. A explicação para esta prioridade telegráfica não é simples. Como pistas para a sua compreensão estão factos como: (i) Portugal ser na altura a cabeça de um império colonial espalhado por diversos continentes, tendo o Brasil sido recentemente destacado; (ii) uma vertente militar caldeada pela sua posição na Península Ibérica - a inicialização da rede telegráfica nacional coube ao Ministério da Guerra; e (iii) a localização de Portugal, ponto de passagem de cabos submarinos, sendo o Reino Unido, com o seu império colonial, a maior potência da Terra.
Registava-se, então, no nosso País, um grande interesse científico e tecnológico pela telegrafia, o qual anunciava uma tendência com frequência repetida nas nossas telecomunicações em todo o período subsequente, que ainda hoje pode ser verificada.
O que não se afirma apenas com base no preâmbulo do decreto-lei de 1855 que conduziu à rede telegráfica nacional. Nele podia-se ler ser o telégrafo eléctrico "um dos factos que mais caracteriza os progressos da civilização moderna" e ser "por meio deste instrumento maravilhoso", "que o génio da ciência e das artes colocou nas mãos da sociedade", que "os povos, as nações, os indivíduos puderam estabelecer entre si todas as relações de ordem moral, política e económica, prescindindo quase da condição do tempo na transmissão do pensamento que as gera e fecunda".
Na verdade, para além da rapidez com que a rede telegráfica se tornou realidade e se expandiu, o que revelou comprometimento institucional e cuidadosa preparação do projecto, vamos encontrar inventores portugueses com notoriedade internacional.
Desde logo, Herrmann, proponente de um telégrafo de Morse modificado. O relatório de José Vitorino Damásio, Director Geral dos Telégrafos do Reino (DGTR), de 1864, refere que a simplicidade resultante da introdução das suas propostas "permitirá que a despesa de conservação e limpeza se reduza a metade da que se fazia com os aparelhos antigos, amortizando-se por isso em pouco tempo o custo da modificação (?) os aparelhos assim modificados, e que se acham em serviço nas estações de Lisboa, Porto e algumas outras, têm dado sempre o mais satisfatório resultado, merecendo a plena aprovação de todas as pessoas que os têm examinado e com eles têm trabalhado". Damásio referia-se à mesa telegráfica de código morse concebida em 1860 por Herrmann, fabricada na DGTR. Em 1866, Herrmann concebia ainda um telégrafo portátil de código morse, incluindo várias inovações patenteadas.
Outro exemplo é o de Bramão, da DGTR, também inovador na área do telefone em que Herrmann também esteve presente. O telégrafo de Bramão, na sua versão de 1874, ganhou uma menção honrosa na Exposição Mundial de Paris de 1878. Evento onde a representação da então Direcção Geral dos Telégrafos e Faróis incluiu, além do telégrafo de Bramão, outras peças de Bramão e de Herrmann, e recebeu um prémio semelhante aos de Baudot, Bell e Edison.

  
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom
Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom

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