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Le drapeau du cinéma

Para a Andreia, Lúcia e Miguel
Pelo que me têm aturado

Quem não gostaria de viver num país onde o cinema fosse tema de uma campanha eleitoral presidencial? Quem não gostaria de viver num país onde uma revista de cinema fizesse um inquérito aos candidatos presidenciais sobre a política para o cinema e ...eles respondessem? Pois esse país existe...essa revista existe. O país é a França e a revista também: os "Cahiers du Cinéma". A revista fez mais, elaborou um programa eleitoral... e depois admirem-se de haver 87% de afluência às urnas.

Esse programa tem doze pontos a saber:

  1. Revalorizar o apoio selectivo em detrimento do automático. 
  2. Combater a formatação dos projectos pelos procedimentos dos apoios. 
  3. Redefinir a articulação entre a acção entre o CNC (centro nacional do cinema) e o das Regiões. 
  4. Projecção numérica: aplicar as propostas do relatório Goudineau ? a passagem da projecção nas salas à projecção numérica é inevitável e muito próxima. Isso pode destruir o que resta de enquadramento do mercado segundo os objectivos de diversidade ou, pelo contrário, reforçá-lo e desenvolvê-lo. Uma solução técnica permite a segunda opção. O relatório elaborado por Daniel Goudineau, dirigido ao Ministro da Cultura sobre este assunto, explica muito bem: o controle das "chaves de segurança" por uma agência independente dos exploradores e distribuidores. As novas tecnologias ameaçam a organização das diferentes formas de se chegar ao cinema: a sala, o DVD, os canais por cabo e abertos... Ao mesmo tempo que a luta contra a pirataria, a necessária manutenção da "cronologia dos media" que dá à sala o seu papel fundador e permite a distinção da obra cinematográfica no seio do fluxo audiovisual. A contrapartida desta cronologia é o reforço das garantias de pluralismo nas salas. 
  5. Limitar o número de cópias de filmes ? a estreia de filmes com 600, 800 ou 1000 cópias torna ilusória toda a política cultural eficaz. Saturando os écrans, e monopolizando a atenção dos media de massas, impõe aos outros filmes um acesso minúsculo aos écrans restantes, e provoca uma rotação meteórica de filmes que, não beneficiando de meios promocionais, têm necessidade de tempo para encontrar o seu público. Combater esta sobreexposição é muito complicado, pois exige um considerável trabalho político e jurídico. Este trabalho é indispensável e devia ser uma prioridade de toda a política de cinema. 
  6. Reformar a definição de arte e ensaio 
  7. Dar o lugar que cabe ao cinema em todo o território 
  8. Dinamizar a política patrimonial- uma política de cinema tem de ter como imperativo tecer as ligações entre o cinema do presente e a sua História. O conhecimento dos grandes filmes de todas as épocas e de todos os países é um recurso indispensável na relação estética com o cinema contemporâneo. A qualidade do trabalho das cinematecas ("nacionais" e "regionais") existentes e os seus efeitos sobre os públicos impõe uma pergunta: porque não trinta cinematecas em França? Mas as salas, os editores de DVD e os canais de televisão têm também de ter um papel importante. 
  9. Desenvolver as formas da presença do cinema na escola ? o encontro com os grandes filmes como parte importante de uma cultura, a compreensão teórica e prática dos processos de realização como formação do espírito crítico, a descoberta da experiência da sala como relação com as obras e com o colectivo devem, coisa que não acontece hoje em dia, fazer parte dos ensinos básico e secundário. Isso exige formadores especializados, reconhecidos como tal pelos professores, e um grande número de melhoramentos nos dispositivos existentes. Se a acção do CNC e do Ministério da Educação são fundamentais, é necessário uma grande exigência para o ensino artístico na escola do qual faz parte o cinema, assim como um apoio político ao mais alto nível - primeiro ministro e Presidente da República.
  10. Valorizar as práticas amadoras
  11. Reforçar todas as formas de acompanhamento do cinema
  12. Pensar uma política de diálogo entre o cinema e as outras artes

Repararam os anos-luz de distância a que estamos? Conseguem imaginar alguns dos nossos candidatos a responder a perguntas como estas:
Se for eleito tomará medidas dignas desse nome para lutar a pirataria na internet e dar aos direitos de autor o seu verdadeiro significado?
Se for eleito, imporá aos fornecedores de internet os mesmos direitos e deveres que os canais de televisão?
Se for eleito, lutará pela restauração de uma autêntica diversidade nos écrans, por exemplo limitando o número de cópias de um filme?
Se for eleito, generalizará uma formação em imagem nos programas desde o 1º ciclo do básico? Etc,etc... ?
Pois bem... responderam todos... Vive la France...


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto

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