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Eco-Centre Heol - Eco-Escola de Patrick Baronnet
Chegamos ao Ecocentro Heol ? Casa Autónoma de Patrick Baronnet ? em Moisdon la Rivière ? Bretanha (França) eram 16h do dia 19 de Fevereiro de 2007.
Vínhamos do Porto, no pequeno Peugeut do Amândio. Foi quase uma directa. Paramos apenas algumas horas numa residencial acima de Bayone.
Na condução, o Amândio era revezado pelo Emanuel. Eu, sentado no banco de trás, alimentava a conversa para que o sono não assaltasse os condutores.

Quando chegamos, o Patrick Baronnet estava à volta duma eólica avariada. Fomos ajudar. Era necessário descerrar os cabos para que a haste de 20 e poucos metros tombasse lentamente até encostar a um cavalete.
As hélices e o dínamo ficavam agora à mão.
O Patrick diagnosticou a avaria: eram os carvões gastos e sujos que impediam o contacto com a bobine. Foi fácil a reparação e em breves minutos estávamos a erguer a eólica graças a um macaco fixo ao tirante, para voltar a repor a eólica vertical ao solo.
Em seguida, o Patrick levou-nos a visitar uma construção em forma de zome. Essa zome fora construída com 84 losangos e o revestimento era feito de cânhamo e cal. O número de ouro estabelecia a relação entre a altura e a largura do zome. Esta edificação conseguira ter licença de construção por ser considerada uma forma construtiva experimental.

E de facto é um laboratório para vários estudos sobre a relação do espaço e a vida e também serve de campo de investigação para a geobiologia.
Os trabalhos de Yann Lipnik, que trabalha desde há alguns anos nas "arquitecturas vivas e formas biodinâmicas" inspiraram a realização desta zome. O estudo da geometria sagrada e a investigação nos domínios inovadores duma ciência telúrica onde se procuram estudar efeitos de correntes telúricas e cósmicas como as redes de Hartmann, Curry e Peyré, interessaram Patrick Baronnet que é um "procurador de verdade" e por isso não é alheio a este tipo de investigações que valorizam antigos saberes com a ciência contemporânea, nomeadamente o paradigma quântico da Física.
O dia estava bonito e o sol entrava pela transparência das vidraças coloridas que mais pareciam rosáceas. A porta da entrada estava especialmente decorada. Dir-se-ia que a zome estava revestida de antigos vitrais de catedrais que davam colorações e ambientes lumínicos ao espaço.

Depois de vermos as particularidades construtivas e de analisarmos os materiais e as formas geométricas subtis fizemos algumas experiências: sentir o espaço circular ascendente. Também percepcionamos os vários matizes das cores e ouvimos os sons que ecoavam nessa campânula em forma de zome. A voz era nítida mesmo quando falávamos baixo. E quando J. Ph Marie Moisson, director do Institut William Bates, usou aparelhos de medição electromagnética, vimos um bom comportamento do edifício em relação aquilo que se considera em geobiologia como pontos patogénicos do habitat.
Fomos para casa do Patrick, onde fomos recebidos pela Brigitte. Conversamos enquanto comíamos uma salada e uma boa sopa de legumes, trocando algumas ideias sobre o momento político e a situação ecológica mundial.
Fomos dormir para o sótão da velha casa rural depois de escutarmos uma bela música que a Brigitte tocou na sua harpa.
Na manhã seguinte, terça-feira, tomamos o pequeno-almoço com os Baronnet.
Depois, o Patrick mostrou-nos um powerpoint com alguns pormenores da casa 3E (economia, ecologia e entreajuda).

Referiu também a abordagem holística e sistémica subjacente à construção desta casa e à envolvente territorial. O elemento central deste habitat era o ecossistema, base da nova arquitectura ecológica.
Fomos então visitar a casa 3E. Foi importante perceber a relação do todo:

O solo, edificado sobre tijolo de terra, é o acumulador radiante. As fundações, que vêm dum fundo de grânulos de argila expandida, aproveitam a inércia térmica da terra que, a cerca de 1,5 metros está sempre a uma temperatura constante de 10 a 12 graus. Assim, a base da casa no Verão é fresca em relação ás temperaturas de 30 a 35 graus do exterior. E no Inverno, por exemplo, os zero graus do exterior encontram-se a 10/12 graus no interior.

Deste modo o edifício funciona como um forno, no Inverno.
Serve-se da temperatura acumulada pelo pavimento e, graças à captação solar (infravermelha) feita pela larga vitrina cuja concentração é facilitada pelo reflexo da parede branca do telhado inclinado, o perímetro das paredes de tijolo de terra é aquecido. Esse aquecimento pode ser reforçado, especialmente durante a noite, com o fogão de sala, envolvido em porcelana refractária e onde circula também a serpentina do cilindro termo-solar.
A bioclimatização solar passiva, completa-se com o poço canadiano utilizado no Verão.

Esse poço canadiano feito no momento dos caboucos é constituído por dois tubos que, a cerca de 1,5 metros, se distendem em forma de serpentina, trazendo para dentro de casa o ar do exterior que foi arrefecido pelo solo.
A casa é revestida nas paredes exteriores pela palha recoberta de madeira, à qual se junta um reboco quase todo em cal. Esta é a parte isolante do edifício.
No interior, as paredes e o pavimento, de tijolo de terra, funcionam como o acumulador da casa.
Interessa salientar que a palha não pode ficar húmida. Por isso, junto ao solo está um muro baixo que com uma camada de óleo não permite a osmose da humidade térrea para a palha.
O geobiólogo Moisson voltou a fazer medições com a sua panóplia de aparelhos.
Verificamos alterações nas radiações electromagnéticas. Os nossos telemóveis faziam interferência nos ponteiros do medidor electrónico.
Depois, no exterior, vimos como a água da chuva era recolhida numa cisterna. E vimos como em relação às águas usadas se usava a fitodepuração. O sistema energético provinha duma pequena central que aproveitava a corrente contínua do dínamo da eólica que, articulada com uma estrutura de foto-pilhas, auto-orientável e pousada no jardim, fornecia carga eléctrica às baterias. Um sistema de conversão permitia obter 220 volts para se utilizarem os electrodomésticos habitualmente feitos para essa voltagem.
As sanitas secas existentes permitiam que a reciclagem dos detritos orgânicos (restos de comida e dejectos) se tornassem nutrientes do composto previsto para o jardim, horta e pomar.
A antiga casa rural, comprada pela família Baronnet, foi totalmente renovada através da auto-construção, tornando-se também autónoma ao nível da água e da electricidade desde há 25 anos.

A eólica fornece anualmente 1,8 megawatts ou seja cerca de 4 a 5 kilowatts por dia.
E o painel de foto-pilhas auto-orientável fornece energia complementar. O aquecimento solar passivo foi conseguido através da estufa colocada à entrada da casa. Esta organização espacial - solar passiva ? que conta com a inércia térmica das largas paredes da construção vernacular, tem também o complemento de um forno de lenha, embutido num revestimento de tijolo burro, coberto com cerâmica.
Existem ainda 4 m2 de captores termo-solares inteiramente construídos pelo Patrick e que fornecem energia para aquecer cerca de 150 litros de água a mais de 40º.
Para a água potável aproveitam-se as águas pluviais que são recolhidas em 2 cisternas com mais de 4000 litros cada uma.
Com esta logística básica (água, luz e aquecimento) construída há mais de 25 anos, a família Baronnet foi consolidando a actividade agro-ecológica para uma alimentação de base vegetariana.
Com estas necessidades essenciais resolvidas, a família pode viver com meio salário de um dos cônjuges e assegurar a manutenção das outras despesas e a educação dos filhos.
Pouco a pouco, os Baronnet edificaram um eco-centro, escola de vida com formação nos fins-de-semana sobre agro-ecologia, dietética, gestão de água e energias renováveis.
Foram-se organizando estágios que ensinavam, através do trabalho prático, as técnicas de construção ecológica (materiais naturais. terra, palha, cânhamo e cal, etc.) e bioclimatização com técnicas passivas e energias renováveis (sol e vento).
Uma pequena associação com actividade editorial foi publicando livros e organizando festivais.
E das conferências, formação geral, estágios e festivais realizaram-se em simultâneo a zome e a casa 3E que analisamos.
Foi um desenvolvimento orgânico, metamorfoseando no tempo as várias etapas, que permitiu aos Baronnet a consciência de viver em harmonia com o lugar e com os projectos sociais com que sonharam.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 166
Ano 16, Abril 2007

Autoria:

Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto
Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto

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