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Carnaval: a folia antes da penitência
Disfarçar, verbo transitivo que significa vestir de modo que não se conheça, mascarar, encobrir, dissimular, fingir. Com estes adjectivos se descreve o Carnaval. Ou Entrudo. Para os que ainda têm memória das outras festas. As que não incluíam só os desfiles carnavalescos no Sambódromo do Marquês de Sapucai, no Rio de Janeiro, televisionadas todos os anos. O Entrudo navegou nas caravelas portuguesas até ao Brasil no século XVI. Mas a sua origem é mais remota.

Origem pagã devidamente cristianizada

A sua origem é pagã. Mas são muitas as teorias que tentam mapear os primeiros festejos ora em Roma, nos festejos da Saturnália; ora no Egipto, nas celebrações que homenageavam os deuses Ísis ou Osíris. A corrente mais consensual associa o Carnaval aos bacanais e festejos similares que em Roma aconteciam por altura da Saturnália. Uma festa onde um carro com um formato de navio desfilava por entre uma multidão mascarada que se agitava em brincadeiras diversas.
Tal como em outras festas pagãs, o Cristianismo adoptou estas festas, renomeando-a de Carnaval e atribuiu-lhe o seu próprio significado. Etimologicamente, a palavra Carnaval remete para a expressão carne levare que significa "afastar a carne", porque segundo o calendário cristão seria o último dia em que se poderia comer carne, a Terça-Feira Gorda. Avizinha-se depois um período de luto marcado, novamente pelo calendário cristão, pelo dia de Quarta-feira de Cinzas (que este ano ocorre a 21 de Fevereiro). Este é o primeiro dia da Quaresma uma época de penitência e reflexão para os cristãos, da prática do jejum, da caridade e da oração que ocorre quarenta dias antes da Páscoa, a festividade mais importante do Cristianismo pois celebra a ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação. O Carnaval seria então a última folia de alegria profana que deveria anteceder esta época de tristeza.

Outros Carnavais

Sob diferentes formas, mas com muitas semelhanças quer nos desfiles alegóricos, quer nas pessoas mascaradas O Carnaval é festejado em vários países. Entre eles: Portugal, Espanha, Brasil, Alemanha (Kanneval), Áustria (Fasching), Bélgica, França, Itália (sendo as mais conhecidas festas realizadas em Veneza), Reino Unido (Shovetide, que significa confessar pecados) Estados Unidos da América (Mardi Gras, que significa em francês Terça Feira Gorda), Grenada (um país-ilha no Caribe) e México.

Disfarçar para criticar

A frase "é Carnaval ninguém leva a mal", faz todo o sentido quando a folia das batalhas de confetes e serpentinas dão lugar à critica e à sátira social nos desfiles de carros alegóricos. O Carnaval foi também uma festa muito proibida durante algumas ditaduras nos países que o celebravam. A razão é simples: as máscaras permitiam a inversão de papeis sociais. Um pobre fantasiado de senhor, a costureira de mestra. Qualquer um podia ridiculizar um político, rimas eram feitas para criticar o governo e as instituições. Em Portugal, o Entrudo era bastante caracterizado pela troça às autoridades, aos costumes e à moral. O uso de máscaras foi proibido durante o Liberalismo. Em Espanha, foi o franquismo que o reprimiu por não se tratar de uma festa religiosa. Actualmente, este lado mais crítico tem vindo a desaparecer mas não deixa de ser um tempo de permissividade e de alguma contestação satírica.

  
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Edição:

N.º 164
Ano 16, Fevereiro 2007

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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